Cinema Falado destaca filme ‘Marvin’

Lançamentos da semana

MARVIN (MARVIN OU LA BELLE ÉDUCATION). FRANÇA. 2017. DIR: ANNE FONTAINE. ELENCO: FINNEGAN OLDFIELD, GRÉGORY GADEBOIS, VINCENT MACAIGNE. DRAMA. 115 MIN.

Para os fãs do filme “Billy Elliott”, feito em 2000, esse filme cai como uma luva por sua sensibilidade em abordar a questão do bullying e abraçar a arte como a salvação contra a brutalidade da sociedade que não aceita as diferenças. Acompanhamos a história de Marvin (Jules Perier na infância e Finnegan Oldfield na fase adulta) em dois tempos, de quando era garoto e do rapaz que larga a família e se muda para Paris atrás de seu sonho, e notamos desde sua infância sua inadequação em viver o papel de um garoto como todos os outros, já que tem a sensibilidade à flor da pele. Sofre na escola com os colegas que o maltratam e abusam dele, mas não relata nada em casa, já que seus pais são dois seres disfuncionais, com toda a carga de preconceito que podem ter, e assim segue Marvin até que um dia é levado pela diretora a um ensaio de uma peça e lá ele descobre sua vocação, seguindo assim sua viagem de autoconhecimento que o levará a passar num concurso e se mudar para a capital. Em Paris ele logo se mistura ás pessoas com o mesmo pensamento que o seu e deixa aflorar sua sexualidade, vivendo então suas contradições e sua homossexualidade com todas as armas que possuía, mas sua vida muda o dia que conhece a atriz Isabelle Huppert (ela mesma, a grande atriz fazendo o papel de si mesma) que aceita produzir o artista em uma peça escrita por ele. Com uma bela fotografia e a interpretação emocionante dos dois atores que fazem o papel principal, eis um bom filme para trazer à discussão os grandes temas do momento embora muitos achem bem redutor essa ênfase em querer transformar traumas em obra de arte.

DAMA DE ESPADAS (DAMA PIK). RÚSSIA. 2016. DIR: PAVEL LUNGIN. ELENCO: KSENIYA RAPPOPORT, IVAN YANKOVSKIY, JOE LEWIS. SUSPENSE. 120 MIN.

O grande artista Piotr Tchaikovsky é muito conhecido por seu balé “Lago dos Cisnes’ e suas sinfonias pungentes, mas também criou óperas como essa chamada “A Dama de Espadas”, uma trama que gira em torno de Herman, um oficial do exército que manipula a namorada Lisa para chegar a sua avó, conhecida como “A Dama de Espadas”, que conhecia o segredo das três cartas que permitia ganhar os jogos. Esse filme russo aproveita da história para criar uma história paralela onde uma grande soprano, Sophia Maier (Rappoport), que já tinha sido famoso no mundo inteiro por sua voz e beleza, resolve voltar para Moscou e montar uma peça, “A Dama de Espadas”, para tentar retomar sua carreira. Ao convidar a sobrinha para fazer o papel de Lisa, acaba conhecendo seu namorado Andrei (Yankovskiy), que luta para conseguir o papel de Herman na peça, e que vai fazer de tudo para tal, inclusive se envolver com a mentora. Um filme surpreendente que nos prende até o fim e segue a trilha de Tchaikovsky.

Despedindo do diretor Bernardo Bertolucci

EU E VOCÊ (IO E TE). ITÁLIA. 2012. DIR: BERNARDO BERTOLUCCI. ELENCO: TEA FALCO, JACOBO OLMO ANTINORI. DRAMA. 103 MIN.

O diretor italiano Bernardo Bertolucci despediu-se dessa vida nessa semana aos 77 anos, mas deixou uma obra monumental que vai continuar seu legado, ele que começou como assistente de direção de Pasolini em 1961 com “Accatone”, mas criou asas e dirigiu obras impactantes. Em 1970 criou “O conformista” e chamou a atenção do mundo, mas seu apogeu chegou com “O Último Tango em Paris” em 1972, que escandalizou o planeta, sendo proibido no Brasil, seguida de 1990, Novecento (1976), um filme maravilhoso que conta um pouco da história da Itália, e trazendo de novo a polêmica com “La Luna” em 1979, quando tratou do tema do incesto. Em 1987 levou a estatueta do Oscar de Melhor Diretor com “O Último Imperador” quando levou nove troféus e se consagrando no mundo, mas continuou com grandes produções como “O Céu Que Nos Protege” (1990), “O Pequeno Buda” (1993), “Beleza Roubada” (1996) e “Os Sonhadores” de 2003. Seu último filme feito em 2012 trata de um adolescente de 14 anos que finge ir a uma viagem mas passa a semana isolado em um porão tentando escapar das pressões da sociedade e lá encontra sua meia-irmã de 25 anos que o confronta, mostrando-nos uma celebração do relacionamento humano. O canto de cisne desse genial cineasta que nos deixa sua obra cada vez mais instigante.

Música da semana

Enquanto escrevia essa coluna fui ouvir o novo álbum do compositor alagoano Djavan, “Vesúvio”. Música da semana: Solitude.

Otávio Paiva
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