Cinema Falado destaca filme "Lady Bird"

1. Lançamentos da Semana

*LADY BIRD: A HORA DE VOAR (LADY BIRD). EUA. 2017. DIR: GRETA GERWIG. ELENCO: SAOIRSE RONAN, LAURIE METCALF, TRACY LETTS. DRAMA. 94 MIN.

A atriz e agora diretora Greta Gerwig já teve papel preponderante em filmes como “Mulheres do Século 20” de 2016 e “O Último Ato” de 2014 ao lado de Al Pacino, mas resolveu então dirigir esse ótimo filme centrado na passagem da adolescência para a maturidade, que tanto mexe com a vida de nós todos. Acompanhamos uma garota de 17 anos de nome Christine McPherson (Ronan) que se autodenomina “Lady Bird”, estudante padrão de uma escola católica na cidade pouca charmosa de Sacramento na Califórnia. Vive brigando com a mãe, Marion (Metcalf), que tem dois empregos para sustentar a família, e idolatra o pai, Larry (Letts), a quem ama demais, e que está desempregado e com depressão. Essa história é bem batida, mas a diretora consegue lhe imprimir um frescor e um sentimento que contagia a audiência ao se ver nos personagens, e assim Lady Bird sonha em voar para longe, para Nova York, onde quer vencer na vida, apesar de viverem um período difícil de recessão em 2002. Assim terá que passar por um tempo duro até alcançar a maturidade, aonde vai se apaixonar pelos garotos errados, trocar de amigas e bater de frente com a escola católica, que lhe tolhe os passos. A atriz Saoirse Ronan tem um desempenho incrível e acabou concorrendo ao Oscar de Melhor Atriz, ganho por Frances McDormand, mas aqui ela mostra seu talento se mostrando despida de artifícios, mas encantadora. Um filme para ser visto por toda a família, pois boas indagações sairão depois da sessão.

 

*VOCÊ DESAPARECEU (DU FORSVINDER). DINAMARCA. 2017. DIR: PETER SHONAU FOG. ELENCO: TRINE DYRHOLM, NIKOLAJ LIE KAAS. DRAMA. DRAMA. 117 MIN.

Este filme representou a Dinamarca como Melhor Filme Estrangeiro do Oscar de 2018 e nos propõe a questionar nossos atos e o que nos leva a sermos como somos, uma pergunta milenar que até hoje nos persegue. Acompanhamos no início um casal e seu filho numa estrada e o pai surta de repente, aumentando a velocidade do carro e quase provocando um acidente; logo após ele pára perto de um penhasco e num vacilo cai de uma altura assustadora. Logo após essa cena somos levados ao julgamento desse mesmo pai, Frederik (Kaas), acusado de fraude e de roubo na escola em que é o diretor, por ter desviado grande soma e feito empréstimos com grande prejuízo para a instituição, o que leva sua mulher Mia (Dryholm) a se questionar se conhecia o marido, pois essa atitude nunca foi detectada por ela. Ficamos então sabendo que ele está com um tumor no cérebro, que pode ter interferido para que ele tomasse essas atitudes, e as perguntas vão se somando para entendermos um pouco o que se passa ao nosso redor. O filme trabalha com duas áreas bem sensíveis, a jurídica e a neurociência aqui representada pela psicanálise, e ficamos divididos em nossa análise, pois a alegação de insanidade após o cometimento de um crime pode levar a várias interpretações. O filme tem tantas reviravoltas e situações ambíguas, mas o resultado é provocador e merece ser assistido e discutido por todos os interessados nessas nuances que fazem nossa vida um quebra-cabeças.

2. Cinema Nacional

*OUTRAS HISTÓRIAS. BRASIL. 1999. DIR. PEDRO BIAL. ELENCO: ANNA COTRIM, CACÁ CARVALHO, GIULIA GAM, PAULO JOSÉ, JUCA DE OLIVEIRA, MARIETA SEVERO. DRAMA.114 MIN..

Este filme pode ser muito importante para o pessoal que vai fazer vestibular no final do ano pois foi baseado no aclamado livro PRIMEIRAS ESTÓRIAS do escritor mineiro Guimarães Rosa, mas sua importância transcende qualquer limitação e pode muito bem servir para todo público brasileiro entrar em contato com o maravilhoso mundo de Rosa. O jornalista e apresentador do programa CONVERSA COM BIAL, Pedro Bial, em sua estréia cinematográfica dirigiu a película com extremo bom gosto e reuniu cinco contos do livro (OS IRMÃOS DAGOBÉ; SOROCO SUA MÃE SUA FILHA; FAMIGERADO; NADA É A NOSSA CONDIÇÃO; SUBSTÃNCIA) passados numa pequena cidade do interior mineiro entrelaçando suas histórias para que se tornassem um só conto para o cinema. Lá podemos ver nossas raízes sertanejas, acompanhamos um homem de boa índole assassinar um chefe facínora e ainda levar o caixão junto com os irmãos que o querem morto, contemplamos perplexos um proprietário de terras fazer uma reforma agrária em suas terras e seus empregados reagirem com ódio e desconfiança ao seu gesto, vemos um fazendeiro se apaixonar por uma menina humilde que lá trabalha, um outro bandido temido se apavorando por causa de uma palavra dita a ele que jamais vira e por fim acompanhamos o sofrimento de um homem cuja filha e a mãe perderam o juízo e vivem de cantar pelas ruas. O universo mágico de Rosa foi muito bem capturado pelas câmeras de Bial e os atores se esmeraram em grandes interpretações onde podemos ver o GRUPO GALPÃO fazendo uma participação especial.

3. Música da Semana

Enquanto escrevia essa coluna fui conferir o último trabalho de Thiago Amud, O Cinema Que o Sol Não Apaga, um dos melhores do ano. Música do ano: Brasiléia, de Guinga e Thiago Amud.

Otávio Paiva
www.deltadvdvideo.com.br

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