Cinco judias polêmicas

Raimundo Bechelaine

Antes que se apaguem os rastros do ano que passou, evitemos uma omissão. Completaram-se, em 15 de janeiro de 2019, cem anos da morte de uma histórica militante do movimento socialista europeu. Até a próxima quarta-feira, estamos ainda dentro do ano centenário. Naquele dia, em 1919, em Berlim, Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht foram assassinados, ao fim de um interrogatório. Ela contava então 47 anos de idade. Amarrado a pedras, seu corpo foi atirado no canal de um rio, sendo encontrado dias depois.

Rosa nasceu na Polônia. Filha de um casal judeu, optou pelo ateísmo. Na escola, foi aluna brilhante e tornou-se filósofa e economista. Adolescente ainda, ingressou no movimento revolucionário. A partir de então, sua curta existência seria bastante atribulada. Com apenas 18 anos, já teve que fugir para a Suíça. Pode-se dizer que foi uma “intelectual orgânica”, pois aliou a produção teórica a uma constante atuação política. Participou da fundação de partidos socialistas na Polônia, na Alemanha e na Inglaterra. Esteve presente, ao lado de Lênin e outros destacados ativistas, na 2ª Internacional Socialista, em Stuttgard.

Deixou obra escrita. Uma das suas publicações interessantes e de fácil compreensão traz o seguinte título: “O socialismo e as igrejas”, acompanhado de um subtítulo: “O comunismo dos primeiros cristãos”. Traduzida para o português, foi publicada pelas Edições Achiamé, no Rio de Janeiro, em 1980. A autora defende aí a ideia de que a mensagem evangélica propõe o fim da exploração dos pobres e que os socialistas respeitam a liberdade de consciência e de crença religiosa, lamentando que o clero das igrejas cristãs alie-se aos exploradores e se oponha ao movimento socialista. O texto continua muito atual.

É impossível não recordar outras três mulheres. Foram judias engajadas e viveram no mesmo período: Simone Weil, Edith Stein e Ana Arendt. Cada uma ao seu modo, evidentemente, com aspectos que as aproximam ou as distanciam. Inteligentes e corajosas, dedicaram-se ao estudo, à filosofia e à ação; e tiveram existências igualmente polêmicas e atribuladas. Trágicas até.  Há várias obras publicadas, relacionando a vida, o pensamento e a ação dessas quatro mulheres apaixonantes. Talvez possamos juntar a estas uma quinta, uma brasileira. Olga Benário tem muito a ver, sem dúvida, com o quarteto europeu. [email protected]

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