Cartilhas informam sobre consumo culinário de flores e plantas não convencionais

Da Agência Minas

A partir da popularização da culinária entretenimento, em que receitas são tema de programas e realities de TV, flores comestíveis como capuchinha, amor-perfeito, calêndula e até a tradicional rosa entraram de vez no cardápio do brasileiro. 

Também as Plantas Alimentícias Não Convencionais (Pancs), famosas nos quintais de antigamente, estão de volta à mesa. São exemplos ora-pro-nóbis, serralha, azedinha, chuchu-de-vento, vinagreira e araruta. 

No entanto, antes de colher e comer, é preciso conhecer quais são as flores que podem ser utilizadas na culinária e como aproveitar os benefícios das Pancs no dia a dia. Não por acaso, trabalhos de pesquisa e extensão têm feito com que o cultivo e o consumo de flores comestíveis e hortaliças não convencionais aumente cada vez mais no Brasil.

Em Minas Gerais, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), vinculada à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), atua em estudos capazes de comprovar o valor nutricional e funcional das flores comestíveis e das hortaliças pouco conhecidas. De acordo com uma das pesquisadoras da empresa, Simone Reis, a valorização de estilos de vida mais simples e de alimentações mais saudáveis são fatores que têm impulsionado esses estudos. 

Beleza e sabores

Já utilizadas em restaurantes sofisticados e cada vez mais famosas por levarem cor, beleza e mais sabor aos pratos, as flores comestíveis tem estado no alvo de chefs de cozinha como Guilherme Pires Ferreira. 

Proprietário de um restaurante em São João del-Rei, na região Central de Minas, ele cultiva e compra o ingrediente de pequenos fornecedores do município. Para ele, a utilização de flores comestíveis não é apenas uma questão estética, mas um recurso que agrega paladar aos pratos.

— O pessoal que vem ao restaurante tira foto, filma, posta nas redes sociais... As reações são as melhores possíveis! Mas o uso de flores não é só estético. Eu também exploro o sabor. A capuchinha, por exemplo, traz acidez para o prato. Já a flor de jambu confere certo amargor às receitas. As possibilidades são múltiplas — destaca.

Com o sonho de impulsionar o plantio e o consumo de flores comestíveis na região, o chef desenvolve um projeto de implantação de hortas comunitárias orgânicas na cidade. O objetivo é empreender iniciativas locais com foco no estímulo a pequenos produtores, num caminho sem volta em prol da popularização das flores comestíveis.

Conhecimento compartilhado

Pesquisadora da Epamig, Izabel dos Santos afirma que as flores comestíveis são nutritivas. Mas é preciso saber quais são as espécies próprias para o consumo humano. Apesar de bonitas e visualmente apetitosas, muitas floree são extremamente tóxicas e, se consumidas na alimentação, podem ocasionar graves problemas de saúde. Além disso, é preciso cultivar as flores comestíveis em sistemas agroecológicos, sem uso de agrotóxicos e ou fertilizantes químicos. 

— Não se deve ingerir qualquer flor colhida na natureza nem flores comercializadas com a finalidade ornamental. Além disso, as flores de corte, principalmente, são submetidas a tratamentos químicos após a colheita para protegê-las contra patógenos e aumentar sua durabilidade. Portanto, as flores vendidas em floriculturas não podem ser consumidas como alimento — alerta Izabel. 

A pesquisadora ainda acrescenta que não devemos confiar nos nomes comuns dados às flores. Os nomes populares, de acordo com ela, podem mudar em diferentes regiões do país e isso tende a gerar confusão no momento de escolha de uma espécie para alimentação. Izabel afirma que o correto a se fazer é considerar os nomes científicos das flores.

Para saber mais sobre as flores comestíveis, faça aqui o download gratuito da cartilha produzida por pesquisadores da Epamig. 

Hortaliças não convencionais 

De volta à cena após alguns anos de esquecimento, hortaliças como almeirão-de-árvore, araruta, azedinha, beldroega, bertalha, cará-moela, chicória-do-pará, chuchu-de-vento, feijão-mangalô, inhame, jacatupé, jambu, maria-gondó, ora-pro-nóbis, peixinho, serralha, taioba, taro e vinagreira estão caindo no gosto de chefs de cozinha interessados no resgate da cultura culinária mineira. E do público, que vem redescobrindo as propriedades nutricionais e o sabor desse alimento.  

Ricas em fibras, minerais e vitaminas, as Pancs representam importante fonte nutricional como afirma a pesquisadora da Epamig, Marinalva Woods. Ela afirma ainda que em muitos casos é possível aproveitar tudo da hortaliça - folhas, frutos, flores, talos, raízes e sementes, em diversas preparações: saladas cruas e cozidas; refogados, sopas, cremes e molhos; omeletes, pastas, patês, recheios e suflês; produtos de panificação, massa de macarrão, pães, biscoitos e bolos; chás, sucos e geleia; em preparações com carnes, frango e ainda como acompanhamento de arroz, feijão, angu e outros.

Marcone Gonçalves, proprietário de uma fazenda no município mineiro de Capim Branco, na região Central, é envolvido com o plantio e o comércio de hortaliças não convencionais desde muito jovem. A fazenda, referência em sistemas agroecológicos e orgânicos no estado, abastece feiras e supermercados de toda a região. Para o produtor, é perceptível como a procura por Pancs vem crescendo.

— A cada dia que passa, o público tem pedido mais por esse tipo de mercadoria, principalmente azedinha, beldroega e taioba — destaca. Quando questionado se o cultivo orgânico agrega valor ao produto e atrai mais clientes, o produtor é enfático ao responder que sim.

— A clientela sabe que receber um produto orgânico é sinônimo de excelente qualidade. Já imaginou consumir uma hortaliça super natural em casa? Com certeza é um dos fatores que eleva o índice de vendas — conclui.

Quer saber mais? Você pode realizar aqui o download gratuito da cartilha da Epamig sobre Plantas Alimentícias Não Convencionais (Pancs). 

Comentários