Carta do Leitor

Osvaldo André de Mello

 

 

Querida Cândida Guimarães Aguiar:

Fiquei estupefato, quando li o seu texto, qualquer coisa como “dai a César o que é de César”, em que cumprimenta o semideus Vladimir pela inauguração da sede administrativa, o Palácio da Municipalidade “Severino Azevedo” (acabou com esse nome?) e descreve aspectos da decoração.

Você, que durante décadas integrou o Comphad, julgava-a mais atenta ao Patrimônio Histórico de Divinópolis, mais inteirada do mesmo.

Você refere miniatura de vagão da RMV e relógio antigo da mesma RMV. Elogia a propriedade do prefeito, que lembra o marco do desenvolvimento de Divinópolis. Meu Deus, você não identificou os objetos? Era obrigação sua. O galo cantou insistentemente, enquanto, diante dos objetos históricos, você os apreciava enlevada, que boa ideia!, e urdia, decerto, o seu comentário.

O que me indignou é você não ter sacado que aqueles objetos foram “furtados” ao acervo do Museu da Memória Ferroviária, criado por Lei, que uma administração passada deixou em funcionamento. E o filho do Geraldo da C. fechou. Mas isso se perdoa a família tão amada por todos nós, não é mesmo?

Se o/a decorador/a quisesse lembrar as paralelas de aço, marco de desenvolvimento, que mandasse fazer outra miniatura (prestigiasse nossos competentes artesãos) — ou escolhesse uma palavra chave simbólica no dicionário pesado de outras possibilidades. Caso tivesse noção, o/a decorador/a também não deslocaria o relógio, telégrafo, sino... O que aconteceu foi muito grave, querida Maria Cândida Guimarães Aguiar, querida desde os anos 60, quando a conheci e já a admirava.  Ocorreu a dispersão de um acervo atropelando o Comphad, o Museu da Memória Ferroviária, os cidadãos. Mas, afinal, até hoje, 31/12/2016, vivemos um governo transgressor, em infinitos sentidos.

Eu esperava que você, ao deparar ali, tão fora do seu lugar (uma sala, onde Demétrio, o demolidor, reuniu todo o acervo, 61 itens, fora documentos não listados), com objetos tão preciosos, com significado histórico, não decorativo, fosse tomada, coerentemente, de bom senso, de responsabilidade patrimonial, e urdisse um puxão de orelha que arrancasse os dois pavilhões auriculares desse prefeito e o chamasse a prestar contas do malfeito. Em vez de aplaudir. Desse a César o que é de César: castigo, punição, palmadas inesquecíveis, que o pusessem sentado em bacia de água quente, com sal grosso. Até a eternidade.

O nosso Patrimônio Histórico merece respeito. Ou não?

PS: Fui conferir: É mais grave do que supunha! Os acervos do MMF e do Museu Histórico de Divinópolis foram saqueados, ordens do Vladimir. O Tonhá é mesmo o cara! Estão as peças históricas espalhadas. Um cubo chora a ausência de uma peça que lá era exibida. Furto? Não sei. Maria Cândida, o que você escreveu é pecado! Eu me recuso a acreditar no seu texto. Que cochilada de uma ilustre dama combativa, mas... concessiva!

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