Carro voador

Augusto Fidelis 

Li, há muito tempo, numa revista do Walt Disney, sobre um engarrafamento medonho na cidade de Patópolis, tanto de veículos automotores como de outros meios de transporte: bicicletas, carroças etc. Inconformado com a situação, Professor Pardal criou um guarda-chuva voador, cujo sucesso e demanda foram imediatos. Longas filas se formaram, tanto para comprar bem como para satisfazer a curiosidade dos incrédulos. 

Todos os ricaços da cidade compraram logo seus modelos, menos Tio Patinhas, porque não aceitava gastar um centavo sequer com frivolidades. Mas, tão logo soube que Maga Patalógica, com a vassoura no conserto, havia comprado um guarda-chuva, podendo chegar ao cofre gigante em poucos minutos e pegar a Moeda nº 1, Patinhas resolveu ceder à novidade.

De início, somente os endinheirados podiam comprar a joia, porém, Professor Pardal deu um jeito de baixar o custo e os pobres entraram  na onda: todo mundo voando. Resultado: em pouco tempo, o engarrafamento que estava em terra subiu para os ares, com frequentes trombadas. O hospital de Patópolis já não comportava os feridos. Daí, a população entendeu que, no ar, o engarrafamento era muito mais perigoso, principalmente depois que Madame Mim colidiu de frente com o pequeno avião do Gastão, e esta jogou mil pedras de fogo sobre a cidade.

Agora, no último fim de semana, li a notícia que, no Japão, está em fase de teste o carro voador, com previsão de entrar no mercado em 2023. O presidente da SkayDrive, Tomahito Fukuzawa, empresa que desenvolve o projeto, salientou: “Queremos uma sociedade na qual os carros voadores sejam um meio acessível e prático de transporte no céu”.

A exemplo de Patópolis, o valor inicial  do veículo não é para o bolso dos pobres mortais: pode chegar a US$ 300 mil a unidade. No entanto, com o passar do tempo, o custo cairá e os pobres também terão vez. Ninguém vai aguentar a arrogância dessa gente.  Assim, a ficção vira realidade, com muitos acidentes fatais. Depois de certo número de anos de tragédias, as autoridades e o mercado vão entender que o engarrafamento no céu é muito mais perigoso do que em terra. 

Aqui no Brasil, quando esse veículo estiver à disposição dos endinheirados, o crime organizado deve adquirir as primeiras unidades. Nos grandes centros, a população verá diuturnamente cenas de filmes, com a polícia se confrontando com os bandidos em desigualdade, pois estará em terra e os meliantes no céu. De início, a polícia não terá viatura voadora, porque os governos nunca têm dinheiro para a educação, saúde e segurança pública. É  somente uma uma questão de tempo. Quem viver verá! 

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