Cabo de guerra

Editorial 

Tira casaco, bota casaco! Interdita, desinterdita! Neste domingo, 20, Divinópolis deu mais um exemplo do que não se deve fazer quando se está passando por uma pandemia. Equipes da Vigilância em Saúde fecharam o Shopping Pátio na noite de sábado, 19, pois o local, conforme alegaram, estava descumprindo as regras de prevenção à covid-19 ‒ em outras palavras, estava com a sua capacidade de pessoas acima do permitido pelo Decreto Municipal, com aglomeração. Fotos da praça de alimentação do estabelecimento circularam nas redes sociais na noite de sábado, mostrando que a situação estava fora do controle e extrapolava as regras de prevenção ao coronavírus. Com o fechamento, quem é do time pró-vida/se puder fique em casa se sentiu representado, e até mesmo um pouco aliviado, pois, enfim, algo de correto estava sendo feito na cidade. Porém, esta sensação de “representatividade” durou pouco tempo. 

No início da tarde de domingo, o shopping foi reaberto ‒ e tudo indica que houve influência política na desinterdição, o que levou a Prefeitura a enviar uma notícia de fato ao Ministério Público a fim de que sejam apuradas as responsabilidades em razão da reabertura. A situação fez com a Administração municipal emitisse uma nota afirmando que “o ato de desinterdição do estabelecimento Shopping Pátio Divinópolis não observou os procedimentos legais de praxe e, de parte do Executivo, não houve qualquer interferência quanto à atuação dos agentes de fiscalização que ali atuaram, em nenhum momento”. O que dá para concluir de toda esta situação? Que a população pode colocar as suas barbas de molho, sentar no sofá e esperar, porque esse cabo de guerra não vai acabar tão cedo e, consequentemente, não há luz no fim do túnel. 

Não há equilíbrio, não há empatia, não há amor ao próximo, nem a si mesmo. Em um momento em que os casos não param de subir, e as mortes também, não seria nem necessário que a Vigilância em Saúde interditasse um estabelecimento por estar gerando aglomeração. Tal situação chega a ser surreal diante da gravidade da doença, sua alta letalidade e o fato de que ainda não se sabe muito sobre ela. A única certeza que se tem é que ela mata! Uns puxam para um lado ‒ o lado da conscientização, dos cuidados, que são simples, dos alertas constantes e das súplicas: use máscara, não aglomere, higienize as mãos constantemente. Enquanto outros puxam para o lado do: tudo pode, é só uma gripezinha, o povo precisa trabalhar. Vivemos no caos, mas a grande pergunta é: sobreviveremos a ele? Aonde tudo isso levará o povo? Qual caminho os divinopolitanos estão seguindo? 

A situação deste fim de semana só reforçou que aquele ditado “cada um por si e Deus por todos” nunca fez tanto sentido quanto agora. Estabelecimento lotado, povo sem senso de coletividade e responsabilidade, e influência política sabe se lá como e de quem. Não há muito que se esperar disso, além de um caos sem data para acabar. Ao que tudo indica, esse é só mais um 7 a 1 para os divinopolitanos enfrentarem: 7 coronavírus x 1 população de Divinópolis.  

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