Cabeça feminina

Leila Rodrigues

Procurou na bolsa, não estava lá. Apalpou os bolsos. Também não estava. Parou, olhou para um lado, para o outro, entrou na primeira loja. Não queria comprar nada, nem sequer prestou atenção no que vendia ali. Pediu licença e colocou a bolsa no balcão. Foi tirando coisa por coisa. Saiu celular, saiu um outro celular, carregador, capinha extra de celular, batom, óculos de sol, limpador de celular e carteira. Sim, ela tinha uma carteira! Tirou outra bolsa (menor de carregar as aspirinas, mais um antialérgico (poderia precisar), colírio, remédio para prisão de ventre e um relaxante muscular). Nada de achar! Continuou tirando as coisas da bolsa. Saiu mais uma bolsinha, agora com caneta, lapiseira, borracha e um bloquinho de anotações que nunca foi usado. Detalhe: ela não estuda há anos! O balcão ficou pequeno, pediu uma sacola e colocou tudo que já havia tirado dentro da sacola.

Continuou a saga. As chaves, chave de casa, chave do escritório, chave da casa da mãe (é que ela está velhinha, posso precisar entrar lá a qualquer momento), chave do carro e chave do cofre do patrão. A esta altura a balconista já estava entrando em pânico, tentando ajudar e ao mesmo tempo se livrar dela que havia tomado todo seu balcão. Quis ser educada, trouxe uma água, ofereceu cadeira. Nada de achar.

Ligou em casa. A empregada demorou 15 minutos para atender. ― Procura na gaveta do meu criado. Atrás do sofá. Entre a poltrona e a minha cama. Na geladeira. Na gaveta das calcinhas. Nada.

Desesperada, começou a suar frio. A pressão ameaçou baixar. Aceitou um café. Rezou. Ligou para a melhor amiga.

― Como é que pode? Um investimento tão alto. Ainda nem acabei de pagar as prestações e já perdi. Já imaginou quando meu marido souber? Vai me matar! Amiga, torce por mim que o meu dia acabou. Vou voltar para casa, tomar um calmante e dormir. Desisti da academia, do médico que eu tinha hoje, de visitar a tia Luzia no hospital... Hoje eu não quero mais nada!

Colocou de volta todos os pertences da bolsa, agradeceu a atendente. 

― Muito obrigada, amiga! Você me acolheu em uma hora muito difícil da minha vida. Valeu a torcida.

Ajeitou a roupa no corpo, limpou as lágrimas para sair e levou a mão na cabeça para ajeitar os cabelos. 

― Oh! Achei! Meu “Raiban” amado! Seu safado, estava aqui na minha cabeça este tempo todo! Paguei caro para você vir dos "States" e você faz isso comigo?




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