Burrice institucionalizada

Ricardo Welbert

Está se complicando a cada minuto a crise gerada pela greve dos caminhoneiros. Os frigoríficos já anunciaram diminuição na produção de carne, porque não tem havido entrega de animais. Também já falta ração em alguns pontos e há o risco de criações morrerem de fome.

A empresa Correios anunciou que as rodovias bloqueadas por caminhoneiros já afetam as entregas. Por causa disso, a estatal suspendeu temporariamente a oferta de serviços com dia e hora marcados (como Sedex 10, 12 e Hoje). A paralisação também tem gerado forte impacto e atrasos nas operações das empresas em todo o país.

Problema também no setor aéreo. Em alguns aeroportos falta querosene para aviões e simplesmente não há decolagens.

Caos estabelecido, a Petrobras ainda parece irredutível. Afirma que não pode reduzir os impostos sobre os combustíveis, porque não pode vender com prejuízo, coitada. É uma cara de pau sem tamanho, porque o mesmo combustível é vendido a preço de banana aos postos de países que fazem fronteira com o Brasil. Isso faz com que muitos brasileiros viagem até o outro lado para encher o tanque pagando até 200% menos do que pagariam no próprio país.

O Brasil é visto lá fora como um dos países mais burros do mundo. Não me refiro aqui à nossa péssima educação (embora nesse sentido também o seja), mas sim no que diz respeito à infraestrutura de transportes. As ferrovias estiveram na origem da economia brasileira e responsável pelo desenvolvimento de muitas cidades.

Há muitos anos os grandes países viram que a saída para transportar de um jeito mais barato e também muito mais seguro é as ferrovias – e investiram pesado nesse tipo de estrutura de logística. Por aqui, não. Acabaram com as vias férreas e resolveram que mais interessante seria meter as cargas pesadas e muitas vezes perigosas (como os combustíveis e explosivos) no asfalto, disputando espaço com carros de passeio nos quais viajam famílias inteiras e também com os motociclistas, que são as principais vítimas em acidentes que envolvem tombamento de cargas nas pistas.

Se tivessem ouvido os defensores da ferrovia no Brasil, teríamos uma escoação de produção muito mais econômica e segura. Mas aqui prevalece o que rende mais dinheiro pro governo – e as rodovias, por uma série de fatores, geram arrecadação muito maior de impostos do que aconteceria com as ferrovias. E agora, nessa crise de logística gerada pela greve dos caminhoneiros, países como Portugal, Suíça, Argentina e Uruguai olham para nós com cara de deboche, por não termos investido em ferrovias e agora estarmos pagando a conta da nossa burrice institucionalizada.

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