Brasília, ano 60

Raimundo Bechelaine

Remeteu-nos a professora Regina Vaz um exemplar da extinta revista Manchete. Junto, veio um bilhete: “Bechelaine, 21 de abril, 60 anos de Brasília! Inspire-se nessas reportagens para escrever um texto jornalístico. Fevereiro, 2020”. Datada de 21 de abril de 1960, esta edição especial tornou-se, passadas seis décadas, documento histórico e preciosa raridade. 

A data é cheia de simbolismos. Lembra-nos a Inconfidência Mineira e a execução de Tiradentes, eventos que marcam profundamente nosso espírito mineiro. Traz à nossa memória a epopeia da construção de Brasília, a sua inauguração e a solene transferência da capital, do Rio de Janeiro para o interior do país. Recorda-nos ainda o falecimento, há trinta e cinco anos, do presidente eleito Tancredo Neves e o fim de um período de duas décadas de horrores, corrupção e atraso. Pois foi isto a ditadura imposta aos brasileiros pelos militares, a serviço das elites econômicas e financeiras nacionais e internacionais, a partir de 1964. 

A revista Manchete pertenceu a uma família de judeus ucranianos. Vieram para o Rio de Janeiro em 1922. Liderada por Adolpho, Oscar e Leonardo Bloch, a editora chegou a publicar várias revistas e a possuir um canal de TV, a Rede Manchete. O grupo foi à falência no ano 2000. Adolpho Bloch era amigo e admirador de Juscelino Kubstchek.

A edição comemorativa de Brasília é fartamente ilustrada.  Pode-se ver ali o cardeal dom Manuel Gonçalves Cerejeira, legado papal para a ocasião, e as centenas de personalidades que lá estiveram, bem como os eventos que compunham a magnífica programação. Os textos carregam no tom triunfalista e patriótico. Mostra-se o desfile de duzentos caminhões levando os operários que, durante três anos, dia e noite, haviam trabalhado na edificação da cidade. Eram chamados de “candangos” e foram muito aplaudidos. (Só não se registrou que depois eles retornaram aos seus casebres, enquanto as elites se banqueteavam e bailavam sobre os mármores dos salões palacianos.)

Agradecemos a doação desta publicação valiosa e realmente inspiradora. Esposa do professor Ivan Ribeiro, Regina herda o talento de uma família ilustre. Ao lado do irmão, o general Sérgio Luiz Vaz Silva, teve oportunidade de conhecer alguns dos palácios brasilienses. É professora de língua e literatura francesa, mestra em filosofia, psicologia e literatura; e prima de Ângela Vaz Leão, grande nome da pesquisa literária mineira. É membro da Agefil. [email protected]

 

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