Bozo e o Inferno de Dante

CREPÚSCULO DA LEI - LXXXIII - Domingos Sávio Calixto

A “Divina Comédia” é uma obra do século XIV, de Dante Alighiere (1265 – 1321), um clássico da literatura universal que disputa palmo a palmo com “Dom Quixote de la Mancha” (Miguel de Cervantes, 1547 – 1616) o primeiro lugar em cada lista dos melhores da história.

No caso da escrita de Dante Alighiere trata-se de um poema no estilo épico, dividido em três partes: Inferno, Purgatório e Paraíso. O Inferno é tratado como uma estrutura física, no formato de um cone invertido e separado em nove círculos concêntricos que se afunilam do primeiro ao nono, verticalmente, da superfície em direção ao centro da Terra. Esse formato é decorrente da queda de Lúcifer, senhor supremo do inferno, para o qual “é melhor reinar no Inferno do que servir no Céu!”, nas palavras de John Milton.

Cada um dos nove círculos do Inferno está devidamente ocupado por tipos de pecados e pecadores. O nono círculo (onde está Lúcifer) é o mais profundo lugar dos castigos eternos e ali não há fogo, mas é um lugar gelado exatamente pela ausência do calor divino. Neste círculo sombrio e gélido é que são encontrados os traidores, considerados por Dante como os piores dos piores pecadores.

Com exemplos de Caim (traidor do irmão) e de Judas (...), há casos de outros traidores como o arcebispo Ruggieri Ubaldini, envolvido no poder político de Pisa (Itália), traidor do também político conde Ugolino Gherardesca. Por conta desta disputa política, Ruggieri traiu e mandou trancar Ugolino em uma torre (1289), juntamente com seus filhos e netos, determinando ainda que a chave fosse jogada ao rio Arno.

Claro que Ugolino morreu de inanição, não sem antes ver também a morte dos filhos e netos pela mesma causa. O livro dá possibilidades de imaginar que Ugolino, em estado famélico, teria tentado se alimentar dos cadáveres dos seus descendentes. Um fim trágico, tanto que Ruggieri e Ugolino estão juntos no nono círculo. Ruggieri foi para lá condenado a sofrer a dor de ter seu crânio eternamente comido por Ugolino!

Se Dante Alighiere estivesse vivo certamente acrescentaria mais alguns versos ao seu poema.  Ficaria chocado com as mortes da pandemia por estas bandas e, perplexo, enviaria bozo também para o nono círculo como traidor dos pobres e vulneráveis. Dante ficaria extremamente estarrecido com a negligencia de bozo e com os números: “100 mil mortes? Mamma mia!”.

Assim, lá encontraríamos bozo no Inferno, com 100 mil almas a morder-lhe o crânio pela nuca. E a cada grito de dor eis que Lúcifer retrucaria: “...Calma, é apenas uma dorzinha!” ...E bozo provavelmente diria: “...mas eu já morri!...”. “E daí? Eu não sou seu coveiro!”, rebateria Lúcifer, mas bozo ainda insistiria: “...a culpa foi dos comunistas!!!”... Aí, sim, Lúcifer perderia a paciência de vez: “Calado! ...Ainda tem a parte da cloroquina na rachadinha, taoquêi?!?”...

Provavelmente o inferno nunca mais seria o mesmo.

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