Bodas de Rubi

João Carlos Ramos

 

Bodas de Rubi

 

Hoje, juntamente com Marita Conceição Ramos, completo 45 anos de casamento. Recordo-me como se fosse hoje: extremamente ansioso, aguardava a bela noiva na porta do extinto templo da Igreja Presbiteriana, situado à rua Goiás em Divinópolis. Algumas pessoas experientes nos haviam aconselhado a casar, uma vez que percebiam que amávamos um ao outro. "O amor triunfa sempre, casem, meus filhos!" Outros, extremamente pessimistas, nos aconselhavam a observar o "preço do feijão" e os inúmeros barcos que naufragaram no revolto mar do relacionamento a dois. Sempre, desde criança, eu estabelecia alvos e marchava com ímpeto para atingi-los, custasse o que custar. Opiniões, para mim, sempre foram apenas opiniões, o importante é a experiência vivida. Assim sendo, me senti fortalecido em vez de temerário. A moça era linda em todos os aspectos. Morena como o entardecer oriental e os olhos minados de esperança. O corpo, com as curvas que eram meu sonho de estrada. O vestido dela era caríssimo, pois, além de branco como a neve, extremamente longo e rendado, haveria de varrer toda a igreja. Creio que por isso ela demorou tanto, pensando nos mínimos detalhes do encantamento. Era 24 de dezembro e, portanto, toda a cristandade se preparava para comemorar em alto estilo o nascimento do Deus-menino.

Sentia uma mistura de sentimento religioso pela maravilhosa data e ao mesmo tempo sonhava com a noite de núpcias com aquela beldade eleita por mim.

A primeira noite haveria de ser comemorada por toda a vida, não importando as lutas que haveríamos de enfrentar. Aquela primeira noite marcou a ferro quente o lado esquerdo do meu peito. Entrelaçados, juramos toda a noite fidelidade absoluta, diálogos e amor eterno. Hoje, quando a neve cai em meus cabelos e lutamos pela sobrevivência, tendo cinco filhos e uma neta, eu me emociono em vez de lamentar e desejar mulheres estranhas, mesmo belas. Choro ao dizer que nunca nos faltou nada, pois sempre tivemos o necessário, como alimento, vestes e o que é fundamental para o sucesso de um casamento, o diálogo franco. Minha amada é enérgica e sempre me diz o que eu preciso ouvir, no tocante às armadilhas que a vida oferece. Por outro lado, creio em tudo, sempre com o pé no freio e a espada de Deus em punho.

Gostaria de dizer nesta áurea data em que comemoramos as BODAS DE RUBI: eu te amo, Marita! Há um buraco em meu peito, pois o meu coração já lhe entreguei naquela noite inesquecível. Quando vejo o rosto de qualquer mulher, imediatamente penso em minha querida esposa, que lava não apenas minha roupa, mas também meu coração.

Como dizia Castro Alves: "Vem, linda! ainda há solidões aqui".

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