Boatos e apoios marcam possível substituição de delegado regional

Leonardo Pio confirma intenção de chefia em transferi-lo da função; Fausto Barros nega participação

Ricardo Welbert 

O delegado regional de Polícia Civil em Divinópolis, Leonardo Pio, falou ao Agora sobre fatos e boatos que circularam sobre o possível afastamento dele. Um dos fatos é que o superintendente de Investigações, Márcio Lobato Rodrigues, falou a Pio sobre uma intenção de mudança. Um dos boatos foi de que o assessor especial da Prefeitura, Fausto Barros, teria influenciado na decisão após investigadores comandados por Pio terem ajudando o Ministério Público de Minas Gerais em uma investigação contra ele por suspeita de coação de testemunha. Os dois personagens afirmam desconhecer essa influência. Fausto Barros disse que se pudesse exercer qualquer influência em relação a Pio, seria em prol da permanência dele no cargo.  

Leonardo Pio disse que ficou surpreso ao escutar o chefe falar sobre a possibilidade de mudança. 

— Fui convidado a ir à Cidade Administrativa para essa conversa. Lá ele me disse que existe uma intenção política de fazer uma mudança. Porém, não me disse motivo e também não citou nome de ninguém e nem deu previsão de quando isso deverá acontecer. Diante disso, cabe a mim apenas esperar pela confirmação da decisão, que cabe ao governador. Independente de qual seja ela, vou respeitá-la. Enquanto isso, continuarei trabalhando por Divinópolis até o último minuto — declarou.  

O site “Divinews” ligou a possibilidade de Leonardo Pio ser transferido a o que seria uma “interferência política” conduzida pelo assessor especial da Prefeitura de Divinópolis, Fausto Barros, que foi afastado do cargo após ser alvo de uma investigação do Ministério Público de Minas Gerais que apura o envolvimento dele em crime de coação de testemunha. A ação teve apoio de investigadores comandados por Pio.  

Em outro inquérito, Fausto Barros é investigado também por falsidade ideológica. Ele é vice-presidente local do PMDB, mesmo partido do vice-governador, Antônio Andrade. Segundo o blog, Barros teria “mexido pauzinhos” para afastar o delegado regional. Leonardo Pio afirma que não sabe se o envolvimento de Fausto Barros é verdade o não.  

— Não faço ideia disso e nem vejo razão para isso. Meu último contato com ele foi na Prefeitura, durante o processo investigatório que é do Ministério Público. A Polícia Civil só cumpriu seu papel de ajudar nas buscas. Não vejo possibilidade de perseguição nisso — disse Pio. 

Por telefone ao Agora, Fausto Barros negou qualquer envolvimento em influência para prejudicar o delegado. Ele disse que não tem nada contra Leonardo Pio e que respeita a autoridade dele.   

— Não tenho nada contra o delegado. Se eu pudesse influenciar em algo, seria a favor da permanência dele no cargo. Pois, pelo pouco que o conheço, sei que é um profissional qualificado — comentou.  

Fausto Barros disse acreditar que o boato sobre influência dele junto ao Governo de Minas para retirar delegado do comando da delegacia regional em Divinópolis tenha surgido por meio de uma pessoa que o procurou para pedir emprego para a mulher, mas não conseguiu.  

Concursado 

Leonardo Pio é concursado para trabalhar na Polícia Civil em Divinópolis. O cargo de delegado regional, porém, é comissionado. A indicação para a função parte do chefe de Polícia Civil e a oficialização cabe ao governador, Fernando Pimentel (PT).  

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) alegou, por meio de nota, que todos os remanejamentos administrativos de seus servidores ocorrem de forma rotineira e técnica.  

— Visam à melhoria do atendimento à população e a promoção da segurança pública no Estado. Até o momento não há nenhum ato formal para a substituição da chefia da delegacia regional de Divinópolis — esclareceu.  

Manifestações 

A possibilidade de mudança no comando da delegacia regional gerou manifestações por parte de órgãos públicos, políticos e entidades.  

A Promotoria de Justiça do Ministério Público em Divinópolis enviou um ofício ao chefe de Polícia Civil de Minas.  

— Os promotores de Justiça da Comarca de Divinópolis, através do presente, registram seu apoio ao delegado de Polícia Civil, Leonardo Moreira Pio, no sentido de que permaneça como delegado regional de Divinópolis, cargo que vem exercendo com competência e idoneidade — declara a nota assinada pelos promotores Carlos José e Silva Fortes, 

Calixto Oliveira Souza, Mário José de Oliveira, Marco Aurélio Carvalho, Gilberto Osório Resende, Marco António Costa, Daniela Vieira, Marco Antonio Vieira, Meire de Souza, Fábio Barbieri Caetano, Sérgio Gildin, Ubiratan Domingues, Alessandro Garcia Silva e Leandro Willi.  

A Prefeitura de Divinópolis informou que o governo municipal apoia a qualquer ação institucional de agentes dos poderes da federação. 

— Deixa registrado seu mais profundo respeito à pessoa do delegado regional de Polícia Civil, Leonardo Pio, e se coloca mais uma vez à disposição para o estabelecimento de parceria na construção de uma cidade melhor e mais segura para todos — ressaltou.  

Os deputados Fabiano Tolentino (PPS), Sargento Rodrigues (PDT), Inácio Franco (PV), Antônio Carlos Arantes (PSDB), Antônio Jorge (PPS), Cabo Júlio (PMDB), Dilsom Melo (PTB), João Vitor Xavier (PSDB), Fábio Avelar (PT do B) e João Leite (PSDB) assinaram um ofício no qual pedem a permanência de Pio. O documento foi encaminhado ao presidente da Assembleia Legislativa de Minas. 

A subseção regional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também se posicionou.  

— A OAB manifesta seu apoio à permanência de Leonardo Pio à frente da delegacia regional. A OAB condena qualquer ato de retaliação que está ou será praticado contra ele, que ao longo de sua carreira e principalmente à frente da regional de Polícia Civil, vem desenvolvendo um trabalho exemplar no combate à criminalidade em nossa cidade e região. Já enviamos ofício ao chefe da Polícia Civil externando nosso posicionamento, com pedido de providências. [...] nosso repúdio aos atos de perseguições e ameaças que a ele estão sendo impostas — cita a nota assinada por Carlos Alberto Faustino, presidente da OAB regional.  

A Associação dos Advogados do Centro-Oeste (AACO) manifestou repúdio à possibilidade de transferência de Leonardo Pio e citou a possível - e desmentida - influência política na decisão.  

— A AACO considera essa ação uma forma de obstrução da justiça e retaliação ao trabalho de um servidor público. A associação informa que encaminhará ofício ao chefe de Polícia Civil do Estado, com assinatura e apoio de todas as entidades classistas e sindicais da cidade e região, demonstrando indignação com a possibilidade do fato ocorrido — declarou.

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