Bem longe

 

Leila Rodrigues 

 Um dia bati as minhas pequenas asas e voei. Acordei em outras janelas. Foi um tempo de saudade, de lágrimas e de dificuldade. Contudo foi, sem dúvida, o tempo em que eu mais cresci!  

Eu sentia saudade da minha avó, da briga com meus irmãos por batata frita, da minha rua e em especial da minha mãe. É! Eu estava longe de casa! E quando estamos longe, até dos cenários temos saudade. 

Quando estamos longe, todo tempo é comprido, toda memória é saudade e em cada canto enxergamos traços daqueles que habitam o nosso coração. Sentia falta da volta pra casa depois do trabalho e de explicar para as pessoas que eu era a filha do Deco. Ali onde eu estava, ser filha do Deco ou de ninguém não fazia a menor diferença.  

A distância nos amadurece sem pedir licença, hoje eu sei. A distância fez com que todas as preocupações da minha mãe ecoassem na minha cabeça de tal forma que era impossível não obedecer a tudo que eu havia aprendido com ela. Eu estava longe, bem longe. Naquela cidade imensa, cheia de gente desconhecida. Eu poderia ter feito qualquer coisa. Não tinha ninguém me olhando, não tinha ninguém para “contar lá em casa” o que eu tivesse feito. E ainda assim, eu optei por fazer o que havia aprendido. Eram as minhas raízes falando mais alto que as ofertas da vida! 

Foi neste momento, o de fazer escolhas sozinha, que eu experimentei a arte de amadurecer. Não foi fácil,  mas foi assim que me tornei protagonista da minha própria história. Caso contrário, eu seria até hoje, uma espectadora de mim mesma! 

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