Augusto Cury transforma palestra em Divinópolis em aula de psicanálise

Escritor best-seller apresenta teoria baseada em experiências

 

Marília Mesquita  

Psicanalista, professor e escritor, 47 livros publicados, títulos que circulam em 70 países, 30 milhões de cópias vendidas apenas no Brasil. Para ouvir atentamente, o chamado fenômeno Augusto Cury, 1,5 mil pessoas ouviram o palestrante em mais uma das conferências que mantêm a agenda dele sempre cheia. Para Érica da Silveira, 29, a decoradora que há um ano se sente curada da depressão na qual esteve entre 2012 e 2016, estar frente a frente com Cury tem algo a mais.  

— Li quase todos os livros dele, porque eu me encontrei na leitura quando queria fugir de tudo. Me fez ver a vida de uma forma diferente — lembra. 

Augusto Cury falou por 1h50. Érica, diferente de qualquer reação eufórica ou de vislumbramento, esteve apenas atenta: a cada palavra dita e a cada frase de efeito. Naquele momento, além de uma carreira de 30 anos na medicina e dos quase 20 anos que faz publicações literárias, o homem da noite se convida a ser um professor: ele recusa a plateia e pede alunos. A jovem aceitou o convite, como todos aqueles que estiveram sentados nas cadeiras embaixo do palanque.  

Com o tema “Ansiedade: o mal do século”, o treinamento tem a excelência de um grande, mas conhecer o próprio “eu” é uma tarefa para gigantes.    

Agora - Por que falar sobre ansiedade? 
Cury — A quantidade de sintomas psíquicos e psicossomáticos que têm abarcando crianças, adolescentes e adultos é assustador. Infelizmente nós mexemos no funcionamento da caixa preta da mente e alteramos o ritmo de construção do pensamento, devido ao excesso de informação, ao excesso de uso do smartphone, de atividades e de preocupações. Todos os estímulos que o Homo sapiens moderno tem registrado é um fenômeno do inconsciente chamado RAM (Registro Automático da Memória). Ela faz com que haja um esgotamento do córtex cerebral com o excesso de dados e patrocina o desenvolvimento de uma síndrome, que eu tive o privilégio de descobrir e a infelicidade de saber que grande parte da população é acometida por ela, chamada Síndrome do Pensamento Acelerado. 

Qual teoria o senhor desenvolveu? 

Minha teoria tem sido desenvolvida ao longo de mais de 30 anos e estuda cinco grandes áreas: processo de construção do pensamento, construção do “eu” como formador da própria história, gestão da emoção, papéis conscientes e inconscientes da memória e o processo de formação dos pensadores. É uma das raras teorias da atualidade que estudam a natureza, os tipos e os registros do pensamento.  

Doenças psíquicas como ansiedade e depressão são alvos de comentários preconceituosos, apesar do diagnóstico. Como lidar com essas doenças?           

Infelizmente, o preconceito ainda existe. Parece que quem tem transtorno psíquico é uma pessoa fraca, quando na verdade, muitas das pessoas que tem depressão, por exemplo, são pessoas com alto nível de sensibilidade. Elas são ótimas para os outros, mas frequentemente são algozes ou carrascos de si mesmas. Não apenas se preocupam com a dor do outro, mas vivem com a dor do outro. Não apenas se preocupam com o amanhã, mas sofrem por antecipação. Quando alguém as ofende, não apenas as fere, mas é capaz de asfixiar o dia, às vezes a semana, às vezes uma história. Então essas pessoas não são fracas e frágeis, aliás são hipersensíveis. Possuem uma emoção muito dilatada e não gerenciada pelo “eu”, que representa a capacidade de escolha, a autodeterminação e a consciência crítica. Este é que deveria ser treinado desde o ensino infantil para dirigir a própria mente. Mas a educação atual é Cartesiana, racionalista e nos bombardeia com milhões de dados sobre o mundo que estamos.  

Existe uma receita para aprender a olhar para si?      

Não existe uma receita, mas há técnicas bem modernas. Por exemplo, a técnica do “DCD”, duvidar, criticar, determinar. Nós deveríamos usar a arte da dúvida, que é o princípio da sabedoria na filosofia, duvidando de tudo aquilo que nos controla. Se uma pessoa sente que ela é pequena, não tem coragem, não é querida, não tem capacidade intelectual, não consegue inspirar seus colaboradores, filhos, parceiro ou parceira, ela deve impugnar, duvidar e discordar desta masmorra que frequentemente é tecida por janelas traumática. Se o “eu” todos os dias no silêncio da mente não duvida, não impugna e não discorda, também não enxerga novas experiências nesses arquivos e não reedita o filme do inconsciente.  

 Mas para que isso aconteça é preciso que a pessoa queira sair da comodidade e ir além? 

 Mais do que ir além é preciso estar disposta e treinar a inteligência para ser gestora da própria mente. Se não há treinamento não é possível formar janelas saudáveis ou reeditar as janelas traumáticas no cérebro, para que possa ter uma mente livre e uma emoção saudável.  

 O homem moderno usa cada vez mais de atrativos para se afastar do próprio eu. Com o uso de celular, por exemplo, as pessoas mostram que não conseguem ficar na própria companhia. De hoje em diante, seja o maior fã de você mesmo.  

   

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