Até que a morte chegue

Até que a morte chegue

Nove. Este é o número de vidas interrompidas na madrugada deste domingo, 1º, em Paraisópolis, São Paulo. Nove jovens tiveram seus sonhos interrompidos e, até agora, ninguém sabe ao certo o que houve. A situação é bem típica: forças de segurança x favela. E não adianta vir com aquele falso moralismo de que “se estivesse em casa isso não teria acontecido”, pois é justamente estes defensores dos sonhos, da moral e dos bons costumes que ajudam este tipo de crime a acontecer mais e mais no Brasil. Adolescentes e jovens entre 14 e 21 anos foram pisoteados após uma suposta operação policial, no “Baile da 17”, realizado na segundo maior favela de São Paulo e a quinta maior do Brasil.

Mais de cinco mil pessoas estavam no espaço no momento da suposta abordagem. Duas versões pairam no ar. Os policiais dizem que colegas faziam a operação “Pancadão”, que busca "garantir o direito de ir e vir do cidadão e impedir a perturbação do sossego”, que dois suspeitos em uma moto atiraram contra eles e foi necessário reagir, o que supostamente teria gerado o tumulto. De outro lado, os parentes das vítimas afirmam que policiais chegaram e fecharam duas ou três ruas onde acontecia o baile. Qual é a versão verdadeira ainda não se sabe. A única coisa certa, neste momento, é que a intolerância e a falta de preparo matam. E como matam!

Agora, neste momento, é inútil discutir. É mais do que inútil, pois a sensação que dá é que justificamos algumas mortes com outras, mas, no fim, nenhuma morte é justificável. Nem a morte de um policial, nem de um jovem. Até agora, outra certeza que se tem é que a falta de solidariedade e de empatia também matam. E que permanecermos nesta divisão sem fim só vai tirar mais vidas todos os dias. Sejam elas de militares em serviço ou de civis que precisam “subir o morro” todos os dias. Deve se incluir neste pacote, a falta de prevenção. Pois, se tem um ditado que prevalece nesta questão, é o de que “antes prevenir do que remediar”, só que por aqui acontece o contrário. Aqui, nada é prevenido, tudo é remediado. Precisou que nove jovens fossem tirados de suas famílias para que fossem mudadas as normas sobre os bailes funk.

Infelizmente, aqui é preciso morrer para que algo mude, pois não há um plano A que funcione, muito menos um plano B, caso o A não dê certo. Infelizmente, tragédias precisam ocorrer para mostrar que nem sempre há remédio para tudo e que a prevenção é a melhor forma de evoluir, nem que seja a passos lentos. Mariana, Brumadinho e a Boate Kiss que o digam. E o pior: nenhuma destas e muitas outras, país a fora foram capazes de sensibilizar quem é de direito a tomar ou adotar providências que sejam capazes de evitar novas. Faz-se um paliativo no momento em que o assunto está em evidência e tudo morre até que mais sangue seja jorrado, mais pessoas sejam queimadas ou engolidas pela enchente ou lama. O resultado de tanta incompetência e desumanidade é o alto preço pago com dinheiro, e muitas vezes com vidas. Mas, quem se importa? Afinal o dinheiro tirado da boca do pobre, não custa nada para os responsáveis, muito menos a vida de estranhos, pelo menos até a morte bater às suas portas!


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