Até quando?

 

 Começamos a semana enterrando nossos mortos por culpa da fragilidade das leis e, consequentemente, da impunidade. Vítimas de duas catástrofes anunciadas e o pior: por causa das tragédias, muitas famílias não puderam nem se despedir dos parentes devido ao estado dos corpos. Outros nem poderão ser enterrados porque não serão encontrados. Até quando os corações de muitas famílias, de Minas Gerais e do País, vão sangrar? Se alguém souber, por favor, me responda.

 Escancaradas

 Só faltava as próprias barragens em Mariana e Brumadinho gritarem: estou muito cheia! Não aguento mais rejeitos! Se continuar assim vou explodir a qualquer momento e não sobrará pedra sobre pedra. Ou melhor, casas, lavouras, hortaliças, pessoas e vegetação. Não é possível que desastres anunciados vão continuar acontecendo e ninguém faz nada. Antes, era em todo período chuvoso com inundações e mortes, no verão com dezenas de quilômetros queimados, e pragas, como a dengue, que entra ano e sai ano, mata dezenas de pessoas. Agora, se perde muito mais vidas de uma vez só por irresponsabilidade e incompetência. A continuar assim, além de país do samba, do futebol  e das mulheres bonitas, poderia ser incluído: o país das tragédias anunciadas.  

 Não sai do lugar

 O Ministério Público denuncia, a Justiça acolhe e algumas vezes a condenação vem. Mas, no país do pode tudo, ninguém obedece. Para se ter uma ideia, a Samarco, empresa da Vale, não pagou uma multa aplicada à empresa até hoje na tragédia de Mariana. Recorreram em todas. Enquanto isso, três anos depois, Mariana, sua população e adjacências estão a ver navios. Agora, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) acolheu os argumentos das instituições públicas que atuam na defesa das pessoas atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão e mandou a Samarco voltar a pagar Auxílio Financeiro Emergencial (AFE) aos atingidos, sem desconto nas indenizações. A pergunta é: desta vez, vai cumprir?

 É bonito no papel

 Correto e obrigação da empresa. O que não significa que vai ocorrer. Na decisão, o TRF1 entendeu que o pagamento com o desconto – proposto pela Fundação Renova – é indevido. E, após essa constatação, determinou que a Renova notifique todos os beneficiados do programa e providencie a complementação financeira necessária, no prazo de 30 dias. Enquanto há vida, a esperança não morre. É só por isso que atingidos pela tragédia ainda esperam.

 Só mudou o segmento

 No Ninho do Urubu, não foi diferente. É inadmissível que autoridades responsáveis não tinham conhecimento das condições em que os menores da base do Flamengo viviam. O material do alojamento, apenas uma saída e janelas com grades. Se não fosse o ar condicionado, seria outra coisa. Mas, a tragédia era anunciada. E agora? Adianta mudar os meninos de lugar? Pagar os salários deles às famílias. Foram dez vidas interrompidas de forma precoce e brutal. E não venha dizer que foi uma fatalidade. Tudo que pode ser prevenido e evitado não pode ser chamado de tragédia, e sim de crime. Se fosse um país realmente sério, o Flamengo poderia ser suspenso de todas as competições em 2019. Mas, estamos no Brasil e o S tem a perna tão torta!

 Silenciosas

 E não para por aí. Estas são apenas as mostradas pela mídia. E as que não aparecem, que não são denunciadas. Quem sabe se agora, depois de tantas vidas interrompidas, tantas famílias estraçalhadas, muita gente interrompa seu egoísmo e não começa mostrar a realidade nua e crua deste país que tanto envergonha as pessoas dignas de morar nele? Será que um dia, o mundo verá pelo menos um pouco de seriedade e credibilidade no Brasil? Se não, de que valerá suas riquezas e belezas?  De nada, como Divinópolis, onde não há uma atividade de lazer e de cultura para o povo. Quem não paga, não se diverte.

 

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