Ascenção e queda

Augusto Fídelis

No ano de 1992, o então todo poderoso presidente da Câmara dos Deputados, Ibsen Pinheiro, acatou e instaurou o impeachment contra Fernando Collor, baseando-se nas denúncias do próprio irmão do presidente, Pedro Collor de Mello, que apontou por onde aconteciam os desvios no governo, isto é, através de PC Farias, tesoureiro da campanha presidencial. Começado o julgamento, Collor apresentou uma carta de renúncia, mas o processo continuou e Collor teve seus direitos políticos suspensos por oito anos.

O mundo deu suas voltas e logo depois, em 1994, Ibsen Pinheiro foi cassado por seus pares, acusado de envolvimento na máfia dos Anões do Orçamento. Ibsen saiu de cena desmoralizado, da mesma forma que Collor de Mello, e nunca mais conseguiu se reerguer em nível nacional. Gastou tempo para conseguir uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Morreu no dia 25 de janeiro de 2020, aos 84 anos, praticamente no anonimato.

Em 2016, outro poderoso e temido presidente comandava a Câmara e parecia imbatível em suas palavras e ações. Eduardo Cunha, em nome dos interesses do sistema, acatou e instaurou o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O pedido foi feito pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal, com base nas chamadas “pedaladas fiscais”. Dilma foi cassada, mas teve melhor sorte do que Collor: o presidente da sessão no Senado, no dia 31 de agosto de 2016, o ministro do Supremo, Ricardo Lewandowski, rasgou a Constituição e a impediu de perder seus direitos políticos.

Ainda em 2016, Eduardo Cunha experimentou da mesma taça. Foi julgado por seus pares e recebeu a reprovação de 450 dos seus colegas, e mais: foi abandonado, jogado na prisão e lá ainda se encontra. As ameaças de comprometer seus algozes, contando tudo em livro, parece não ter surtido efeito.

Agora foi a vez de Rodrigo Maia. Presidente da Câmara por quatro anos, trocou as mãos pelos pés, agiu como se presidente da República fosse, atrapalhou o governo, esculhambou o país, mas não adiantou: já foi jogado no ostracismo e, de uma hora para outra, pode também ser cassado e perder seus direitos políticos, porque indícios de crimes não faltam.

Em entrevista à Jovem Pan nesta semana, Gilmar Mendes, o ministro do Supremo Tribunal Federal, deixou claro, ainda que nas entrelinhas, que neste ano de 2021 a Corte fará um novo julgamento de Lula, para limpar a culpa que lhe foi imputada por Sergio Moro e torná-lo apto a concorrer às eleições de 2022. Sei não: do jeito que as coisas caminham, vão perder tempo. Porém isso servirá apenas para a queda de muita gente. Quem viver verá!

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