Após ser multado por tapar buracos em Divinópolis, empresário critica governo com paródia

Letra de 'Concreto fora da lei' é inspirada em 'Cowboy fora da lei', de Raul Seixas

Ricardo Welbert 

Após ser multado em R$ 800 pela Prefeitura de Divinópolis por aplicar concreto em buracos na rua Princesa Isabel, no bairro Jardim das Mansões, o empresário Ailton Rodrigues de Almeida, conhecido como Kapone, publicou na internet mais um protesto contra o governo. Desta vez ele aparece cantando "Concreto fora da lei", paródia que ele próprio compôs inspirado na letra de "Cowboy fora da lei", de Raul Seixas. 

A manutenção na rua foi feita há dois anos, em frente ao número 311, onde fica a empresa dele. Após concretar parte da via, Ailton percebeu melhorias no trânsito de veículos e pedestres. Porém, um vizinho denunciou a intervenção à Prefeitura.

— Ele disse que o cimento estava retendo água da chuva na rua, mas isso não é verdade. Conforme mostram várias fotos que tenho, a enxurrada continuou acumulada em um local a poucos metros da área concretada, onde isso já acontecia. Inclusive um diretor de obras e um operador de máquinas da Prefeitura viram e concordaram comigo — diz Ailton.

A Secretaria de Meio Ambiente concordou com o vizinho e multou o empresário.

— Fiquei com tanta raiva que joguei a multa fora e não paguei. Porém, recentemente eu soube que o meu nome foi incluído pela Prefeitura na dívida ativa. Isso me gerou problema com o banco e poderia gerar com a Receita Federal. Acabei pagando a conta no fim de abril. Somando-se o custo com cartório, ficou em uns R$ 900 — conta.

A paródia publicada por ele no Facebook no sábado, 5, já marca 16 mil visualizações e 723 compartilhamentos na manhã desta segunda-feira, 7. Dezenas de internautas reagiram ao vídeo e deixaram comentários de incentivo. 

— A indignação não é só minha. É do povo. Qualquer cidadão que deseje morar em uma cidade com ruas melhores logo fica do meu lado. Não tem outro jeito — desabafa.  

Primeiro protesto 

A paródia é o segundo protesto de Ailton contra a multa. Na ocasião anterior ele pegou um celular e gravou um vídeo em que mostra a situação precária na esquina da rua Princesa Isabel com a Barão de Itapetininga, perto do acesso ao Hospital Bento Menni. Ruas de terra cercadas por terrenos abandonados e com mato que chega à altura de um poste.

— O ponto maior da minha indignação é este aqui, na rua Princesa Isabel. Devido a tanto buraco, há mais ou menos uns dois anos eu coloquei um concreto aqui, para dar uma arrumada neste pedacinho aqui. Serve até como apoio ao bairro, como um lugar melhor para as pessoas se reunirem, pois o bairro não tem nada — diz ele enquanto gira o corpo para mostrar o cenário. 

E continua:

— A Prefeitura, em vez de me apoiar, me autuou e me enviou uma multa e essa multa, por indignação, eu não paguei e acabou indo para a dívida ativa. Isso dificulta minha situação perante à Receita, perante aos bancos, porque vai pra lá e as consequências são ruins. A Prefeitura me autua por colocar concreto para melhorar uma rua que fica em um bairro que não tem nenhum metro de calçamento e rede de esgoto. A minha empresa está aqui e eu gero emprego — narra.

O vídeo foi publicado no Facebook no dia 4 de abril de 2018. Às 19h daquela data a publicação original marcava 60 reações, 362 compartilhamentos e 8,6 mil visualizações. Além disso, muita gente compartilhou a gravação em grupos no WhatsApp.

O vereador Edson Sousa (MDB) ficou sabendo da história e foi ao local conferir a situação da rua. Defensor da iniciativa de Ailton, levou o caso à tribuna da Câmara.

— Essa é a insana política municipal de judicializar tudo. Tanta coisa precisando ser observada e a Prefeitura multa e protesta o nome de um cara honesto. É um trabalhador agredido pelo sistema — ponderou.

Ailton esperava que a repercussão sensibilizasse a Prefeitura e levasse a Secretaria de Meio Ambiente a anular a punição.

Outro lado 

O Agora fez contato à época com a Secretaria de Meio Ambiente em busca de explicações. Por e-mail, a reportagem perguntou sobre os critérios usados na definição do valor da multa. Questionou ainda se a pasta pretende manter a multa.

O órgão se limitou a responder apenas que o cidadão foi multado devido ao fato de sua intervenção na via pública atrapalhar a passagem das águas pluviais.

— Após denúncia dos vizinhos e seguindo as normas urbanísticas, o cidadão foi notificado e, após todos os prazos para recorrer serem esgotados, foi multado pela obra irregular. Como a multa não foi paga, foi inscrita na dívida ativa — finaliza a secretaria.

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