Aparência não faz essência

Laiz Soares

Apoiadores do atual governo, incluso o próprio prefeito de Divinópolis, adoram ressaltar sua qualidade que seria em tese a mais exemplar e mais trabalhada em seu marketing: a humildade. 

Primeiro que uma virtude dessa, para ser verdadeira, deve ser essencialmente reconhecida por muitos e não autointitulada. Ninguém que é humilde de verdade fica gritando o dia inteiro que é ‒ a pessoa simplesmente é, e isso fica claro nos seus atos. Segundo, ser alguém simples é muito diferente de ser humilde. O humilde, acima de tudo, reconhece seus erros, reconhece suas limitações, pede ajuda, pede desculpas, sabe se comportar como aprendiz diante das pessoas e da vida, busca sempre sua evolução. 

Ser simples é outra história. Você pode ser extremamente arrogante e petulante usando bermuda ou calça jeans, chinelos e camiseta desbotada. Você pode ser extremamente amável, humano, educado e humilde usando um terno bem cortado e estando bem vestido ‒ o que, aliás, eu considero um sinal de respeito e consideração com as pessoas e com sua posição quando você ocupa um cargo público. As pessoas precisam entender de uma vez por todas: aparência não faz essência. 

Digo isso porque na última semana nos deparamos com um show de horror de agressividade, arrogância, grosseria e machismo. O atual prefeito, no auge da sua autoproclamada humildade, atacou Alexandra Galvão, primeira mulher presidente da Acid. 

Alexandra representa uma instituição séria e importante para nossa cidade e estava em reunião com o prefeito defendendo uma pauta importante para o desenvolvimento local. Eu sempre falei que no momento de pandemia era necessário o desenho de um pacote econômico para tentar segurar os empregos e a renda na cidade e amenizar os sérios danos econômicos do momento. Este pacote deveria partir da Prefeitura! Como não partiu, as entidades fizeram o trabalho e foram lá apresentar. 

Alexandra foi conversar sobre a possibilidade de adiamento do pagamento de IPTU em seis meses para aliviar a crise, dentre outras sugestões da Acid com as quais eu concordo. Belo Horizonte e inúmeros outros municípios pelo país adotaram medidas parecidas com a proposta que estava em discussão na fatídica reunião. Se o novo governo fizesse um verdadeiro choque de gestão, seria possível, sim, uma renúncia pontual de receita neste ano de crise para aliviar para toda a população. As receitas de IPTU representam 5,6% das fontes totais de receita do Município e a inadimplência no ano passado foi em torno de 25%. Alexandra não estava pedindo nada absurdo, sua proposta era bem plausível e embasada. A resposta que recebeu, ao contrário, foi fundamentada única e exclusivamente na incompetência e incapacidade de diálogo.

Além da demonstração de uma personalidade autoritária, o prefeito reafirmou algo ali que eu já sabia. Por mais que ele diga que não, seus atos revelam um machismo estrutural. Mesmo que não queira ser machista, ele é, e precisa ter consciência disso e buscar essa desconstrução, que é um processo. Um dos clássicos do machismo é justamente desqualificar a inteligência e a sanidade mental de uma mulher.

No auge do seu rompante de raiva, o prefeito disse: “Senta ali então na cadeira, para você ver se é fácil”. Eu achei uma ironia do destino, justo a cadeira do teatro circense em que todos que ali visitam se sentam para tirar uma patética foto que simbolizaria a Prefeitura ser de todos. Coerência é outra virtude em falta. Como fica aquela história de que todos são prefeitos na hora que o bicho pega e uma decisão difícil seria precisa ser tomada? O famoso choque de realidade chegou. Os rompantes do prefeito mostram falta de equilíbrio emocional e despreparo para o cargo. Política não é para os fracos e covardes, é um espaço para quem tem coragem e preparo.

Alexandra Galvão não é louca. Louco, eu ousaria dizer, é quem ainda continua batendo palma para maluco e defendendo os erros custe o que custar, sem nenhum senso crítico nem noções de ética e civilidade. 

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