Aos 88 anos e com quatro mandatos, Galileu se despede da Prefeitura

Prefeito relembra as dificuldades de sua gestão e promete facilitar transição de governo na questão financeira

Paulo Vitor Souza

Depois de enfrentar mais um processo eleitoral, Galileu Machado se despede da cadeira mais importante do Município. No alto de seus 88 anos, o prefeito, que esteve à frente do Executivo por quatro mandatos, entra agora para a galeria daqueles que, de uma forma ou de outra, fazem parte da história da cidade. 

Longe de ser unanimidade, Galileu enfrentou oposição ferrenha em seus últimos anos de governo. Foi desgastado depois de polêmicas internas na Prefeitura, como a farra dos cargos comissionados e a ingerência no trato com a Copasa. Mesmo assim, conseguiu se segurar no cargo ao derrubar seis processos de impedimento na Câmara.

Galileu enfrentou anos atípicos em sua gestão. Fatores como a falta de repasses do governo estadual e a pandemia inviabilizaram muitos dos projetos prometidos para a administração de 2016/2020.

Em entrevista ao Agora, Galileu fez balanços do mandato. Abordou as dificuldades à frente da Prefeitura mais complexa do Centro-Oeste mineiro. Perguntado sobre a leitura que ele faz acerca de sua gestão, apontou que recebeu a Prefeitura com déficit, em 2017, mas que conseguiu cumprir uma de suas propostas de campanha, a manutenção em dia da folha de pagamento dos servidores.

— Logo em 2017, meu primeiro ano de governo, recebi a Prefeitura com R$ 47 milhões a pagar. Neste ano [2020] ficou impossível de pelo menos começar a cumprir nosso plano de governo, porque não sobrou recurso para nada. O principal item do meu governo seria manter em dia a folha dos servidores, e isso eu consegui fazer — explicou.

Além dos R$ 47 milhões em dívidas herdados da penúltima gestão, a Prefeitura teve de pagar contas que já se arrastavam. Só nos últimos quatro anos foram mais de R$ 9 milhões em ações trabalhistas, R$ 6 milhões em precatórios e R$ 90 milhões para o Instituto de Previdência Municipal (Diviprev), totalizando R$ 157 milhões a menos em recursos.

Falta de repasses

A crise provocada pela falta de repasse do Governo de Minas deixou em alerta os mais de 850 municípios do Estado. Em Divinópolis, o governo Pimentel (PT) impôs à cidade um rombo de R$ 115 milhões, o que, segundo Galileu, impediu o andamento de vários projetos municipais.

Herdada por Romeu Zema (Novo), a dívida deixada pelo petista foi parcelada em 30 vezes. O débito do atual governo estadual também está parcelado.

Sem muita perspectiva em relação aos repasses estaduais, Galileu apelou para empréstimos em bancos federais. Somente na Caixa, o município ensaiou financiamento de R$ 15 milhões, que depois viria a ser cancelado. No Banco do Brasil, a administração conseguiu o mesmo valor, que não foi executado em sua totalidade.

— Só do governo Pimentel foram 115 milhões que deixaram de vir para a cidade. Eu fiz um financiamento na Caixa e, infelizmente, ela não cumpriu o compromisso com o Município. Depois fiz com o Banco do Brasil em 15 milhões. Imagine se tivéssemos os 115 milhões, o que iríamos fazer? — ressaltou.

Gestão Gleidson-Janete

Além de contar com as parcelas do acordo feito por Zema para quitar a dívida estadual, Gleidson encontrará a Prefeitura sem dívidas e com cerca de R$ 9 milhões em recursos. É o que promete Galileu Machado.

— Nós vamos passar o governo zerado para meu sucessor. Vou deixar cerca de R$ 9 milhões dos R$ 15 que pegamos com o Banco do Brasil, porque não executamos nem 6 milhões de reais — disse.

Gleidson também poderá contar com cerca de R$ 10 milhões, provenientes do PAC Saneamento. Galileu diz que deixa o montante em caixa para que Gleidson possa tocar as obras que ainda não foram concluídas.

“Legislativo… Não sou chegado”

Com jeito próprio de sempre, Galileu não descarta um retorno à disputa pela Prefeitura em 2024.

— Eu não digo que vou sair daqui pensando em me candidatar, mas, se eu tiver saúde, não tenho dúvida. Se o partido quiser, estarei à disposição — pontuou.

Mas o que Galileu se interessa mesmo é pelo Executivo municipal. Perguntado sobre alguma pretensão para o legislativo estadual, Galileu foi enfático.

— Não! Legislativo eu não sou chegado, prefiro o Executivo. Mas ainda não pensei nisso. Vou descansar agora, continuarei no partido em atividade e quem sabe preparando um candidato para nos suceder. Vamos ver o que vai acontecer — comentou.

Agradecimentos

Em sua mensagem de agradecimento final, o atual prefeito lembrou as quatro vezes em que foi escolhido pelo voto popular. Galileu estendeu seu reconhecimento a toda a população divinopolitana que esteve a seu comando em 16 anos de Prefeitura. 

— Eu não poderia deixar de agradecer ao povo de Divinópolis por confiar a mim quatro mandatos. Fui o prefeito que mais tempo governou a cidade. Agradeço ao povo essa oportunidade. Quero dizer que fora da política estarei sempre à disposição da população — finalizou.

A entrevista na íntegra se encontra nas plataformas digitais do Agora

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