Alfabetização antecipada recebe críticas de educadores

Rede municipal local já adota o modelo considerado avanço pedagógico

 Flávio Flora

Como o Brasil deve formar seus estudantes na primeira infância (?) é a pergunta que se faz depois da terceira versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) pelo Ministério da Educação. No documento, publicado recentemente, mas pouco difundido, a idade prevista para que as crianças brasileiras estejam plenamente alfabetizadas em todas as escolas brasileiras, está para ser antecipada para os sete anos, quando as crianças estão matriculadas no 2º ano do fundamental.

Nas versões anteriores, a idade considerada “certa” para a alfabetização plena era por volta dos oito anos, durante o 3º ano do ensino fundamental.  Essa mudança vai alterar a rotina de mais de 140 mil escolas públicas, onde estão cerca de 7,5 milhões de alunos de 6 a 8 anos, sem contar as pré-escolas, para alunos de 4 e 5 anos.

A redação do documento começou em 2013 e deve terminar no segundo semestre, depois de concluídas as audiências públicas, que ocorrem em todo o País. Com essa nova rodada de consultas e redação de uma nova versão, a base deve começar a ser aplicada só em 2019.

Alfabetização antecipada

A secretária executiva do MEC, Maria Helena Guimarães de Castro, justificou a proposta, informando que essa antecipação da idade já acontece em muitas escolas particulares e municipais e que se trata de uma questão de equidade e de uma tendência mundial.

— Não faz sentido esperarmos até o terceiro ano, quando a criança conclui com oito, às vezes com nove anos de idade, para que ela esteja plenamente alfabetizada. Ou seja, se as crianças da classe média, que frequentam escolas particulares, ou a criança que está em uma escola pública muito boa (...), nós precisamos fazer que isso aconteça em todas as escolas — afirmou a secretária do MEC.

Segundo a secretaria municipal de Educação de Divinópolis, Vera Prado, a alfabetização antecipada, já praticada na rede municipal, é avanço pedagógico:

— Nas unidades escolares do município as crianças começam com 4 a 5 anos a ter noções de um ambiente alfabetizador. Com 6 anos no ensino fundamental, começam a ser alfabetizado e aos 7, as crianças das nossas unidades já estão lendo. É um avanço começar mais cedo e entre 7 e 8 anos estamos consolidando essa alfabetização — avalia a Secretária.

Opiniões contrárias

Especialistas em educação infantil, no entanto, ressaltam que antecipar idade de alfabetização como modelo geral pode afetar negativamente o desenvolvimento e o amadurecimento das crianças.  A antecipação em um ano da alfabetização plena não muda apenas os objetivos de aprendizagem do ensino fundamental, mas também altera os objetivos do ensino infantil.

Segundo a orientadora Renata Fernandes de Castro, do Colégio São José São Geraldo (em Divinópolis), é possível alfabetizar crianças até os sete anos de idade, mas a maioria tem dificuldades próprias da idade. A especialista acredita que usar os dois primeiros anos do ensino fundamental para a alfabetização do tipo ler e escrever não garante o sucesso do modelo, pois a criança precisa da educação infantil para desenvolver a coordenação motora e as habilidades sociais.

Entre as consequências da antecipação da alfabetização está o aumento de crianças de seis anos que não conseguiram alcançar a meta. Na visão crítica de educadores, a questão demanda das escolas atenção redobrada para reconhecer as dificuldades de aprendizagem e corrigi-las antes que atrapalhem o resto do percurso escolar.

 

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