Aeroporco

 

A novela do Aeroporto Brigadeiro Cabral está caminhando para um final trágico. A qualquer momento, poderemos ter o anúncio de que as aeronaves da Azul não farão mais a linha Divinópolis/Campinas em razão de não existir quem administre o local. Alguns acham que não faz muita diferença a existência destes voos saindo e pousando na cidade, mas eles abrem portas para que um dia outras linhas aéreas passem por aqui e o aeroporto não volte a ser um campo de pouso para uma minoria rica ou pior: pasto para animais. 

Os problemas e mistérios que cercam o aeroporto não são uma novidade. Os hangares alugados por preços irrisórios junto à Prefeitura, muitas vezes, são realocados e passam a dar lucro para quem alugou e não para o município. Em uma conta simples, dá pra perceber que somente com o dinheiro destes aluguéis a Prefeitura manteria o local. Ocorre que a farra ali é muita e a área já serviu até de pista de kart e festinhas regadas a bebidas caras. 

O problema da suspensão dos voos, porém é outro. Na gestão anterior, foi feito um contrato porco com a empresa Socicam para que ela administre o local. A Prefeitura tem de repassar R$ 168 mil para a terceirizada cuidar do aeroporto. O valor é considerado por muitos bastante elevado e gera até suspeitas. Pessoas ligadas à área afirmam que com R$ 30 mil dá pra pagar todo o custeio operacional. Com o dinheiro dos hangares, já dava pra administrar, e se bobear ter lucro. Se a conta for um pouco maior, não passa de R$ 50 mil. 

O contrato, porém, já está firmado, assinado e em vigor. O município, em situação financeira ruim, não consegue arcar com os compromissos. No Governo de Vladimir Azevedo (PSDB), os pagamentos já não estavam em dia e a dívida acabou sendo herdada por Galileu. Sem repasses, sem receita e sem reforma administrativa, a Prefeitura logicamente não conseguiu pagar os atrasados. Até tentou colocar algumas parcelas em dia, mas o caixa não aguentou o rombo deste contrato obsceno. O montante devido já passa dos R$ 2 milhões. 

Para a Socicam, a situação é confortável. A empresa sabe que a dívida existe e mais dia, menos dia, será paga e, por isso, mantêm tudo funcionando normalmente. O problema é que o montante vem aumentando e a sombra do calote já começa a pairar. A Prefeitura quer cancelar, porque sabe que está pagando algo além do que vale, mas como cancelar sem perder os voos da Azul se tornou um dilema. Para buscar uma solução, o prefeito Galileu Machado e o secretário de Desenvolvimento, José Alonso Dias, agendaram uma visita a Brasília, onde pretendem se reunir no Ministério da Aviação e, talvez, passar para a gestão do Aeroporto Brigadeiro Cabral para a Infraero. 

Se as soluções buscadas vão dar certo, os dias dirão. De toda forma, esse contrato deveria ser enviado ao Ministério Público, com planilhas de custos operacionais do aeroporto em anexo para uma profunda análise, que poderá apontar se houve ou não superfaturamento. Se houve, na pior das hipóteses, a dívida com a Socicam diminuiria bastante. 

O cenário não é mais dos mais animadores e este é apenas um dos “abacaxis que a Prefeitura terá de descascar”. Nos bastidores, já corre a informação de que outro contrato também enfrenta problemas similares: o do lixo. Que a limpeza urbana anda ruim está explícito aos olhos de qualquer um mais atento que ande pelas ruas. A empresa também estaria com repasses atrasados e, a qualquer momento, poderemos ter uma crise nesta área. Em meio a tanto lixo, o problema do Aeroporco é só mais um problema. 

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