Adeus, futebol!

 

            Adeus, futebol!  Esporte medieval de origem celta, o “hurling”, ainda bastante disputado na Irlanda, compunha-se de duas equipes, 15 elementos cada, os quais conduziam a bola usando bastões.  Ao Brasil, sob outra forma, chegou em 1894, pelas mãos e pernas de descendentes de Charles Miller. Criaram-se os primeiros clubes, fazendo-o expandir-se, rapidamente, nos quatro cantos do país. Enquanto realmente esporte, era praticado com amor à camisa e devotamento ao seu time, sem rancores e politiquices. Seus praticantes eram esportistas convictos, jamais sonhando com fabulosas somas, nem comercializados, de uma forma desrespeitosa a um ser racional, como gado, assim sendo feito hoje.

            O futebol no mundo, particularmente no Brasil, na verdade progrediu em técnica, mas perdeu em moral e respeito aos seus condutores, por desastrados gerenciamentos. Brotam-se a farsa. A mídia, inicialmente escrita e radiofônica, entra em cena, e, apesar do esmero e cuidado de seus profissionais, comete exageros, na preparação e discrição dos eventos esportivos, induzindo a população ao patrocínio e geração, pela via dos estádios, neles acondicionada em espaços e segurança deprimentes, de administrações corrutas e sonegadoras.  São torcedores que, acreditando na seriedade dos espetáculos, por vezes retiram da mesa o lanche de seus filhos na escola, a aquisição do remédio, na esperada cura de uma doença, dinheiro que vai parar nos substanciosos cofres de clubes, já financeiramente bem sucedidos, proveniente de negociação de seres humanos, para nós, atletas; para eles, mercadorias, humilhantemente expostos como se fossem vitrines, nas competições de mercado.

            O futebol continua sob suspeita. CPIs de investigação de contratos não prosperam. A indústria e comércio da indumentária esportiva cresce a olhos vistos. Marcas e símbolos invadem arenas, automóveis, jornais e TVs. Aproveitam-se de sua magia e arte de divertir a plebe, aliviá-la, embora em curtos instantes, das mazelas sociais, além instrumentalizar bandeiras políticas, a governos divorciados do povo. Quem, como eu, assistiu ao gen. Médici, o mais facínora de todos chefes da ditadura militar, bailar em praça pública, ao festejar a conquista da Copa Mundial de 1970, dizendo-se homem do povo. Surge o slogan, “Ninguém segura este país”! Beneficiando-se da justa vitória do Flamengo, no Libertadores das Américas, por representar massificada torcida brasileira, Bolsonaro não obsta em copiá-lo:  “Brasil, acima de tudo”! Falas oficiais, em vez de estimularem a paixão aos chegados do sumido esporte, indiferentes a cores de sua preferência, leva-lhes o sentimento de antipatia. Todavia, o sonho de Lima não desfaz a dor da involuntária tragédia carioca de fevereiro.

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