Adeus ao professor Bittencourt

Raimundo Bechelaine

Quase ao nível do piso, está gravada a data de 21.04.1940, junto à porta principal do antigo prédio do Ginásio São Geraldo, na rua Mato Grosso. Apenas e exatamente assim, sem nada que explique o porquê de ali estarem aqueles solitários algarismos. Pode-se supor que seja o dia do término da construção ou, talvez, da inauguração do vetusto conjunto de edificações, há 80 anos. Viriam elas a compor as dependências da escola que nasceu em Oliveira, transferiu-se a Pará de Minas e veio consolidar-se em Divinópolis. Seu fundador, diretor e proprietário era um francês, o respeitado professor Henry Martin Cyprien, homem que aqui fez história. Havia um internato masculino, além do externato para alunos e alunas residentes na cidade. À noite, funcionava uma Escola de Comércio e Contabilidade. 

Domingo passado, em Belo Horizonte, aos 96 anos de idade, faleceu o pastor José Alves da Silva Bittencourt. Nasceu em Santo Antônio do Manhuaçu, de família católica, aos 20 de abril de 1924. Convertido ao protestantismo e rebatizado em 1940, portanto aos 16 anos, estudou no Seminário Batista do Rio de Janeiro e foi ordenado em fevereiro de 1950. Neste mesmo ano veio suceder ao pastor Henrique Edwin Cockell, na Igreja Batista de Divinópolis; e sucedeu a Cockell também como professor de inglês no Ginásio São Geraldo. 

Em 1959, a recém-criada Diocese de Divinópolis adquiriu a instituição. O diretor passou a ser o professor monsenhor Hilton Gonçalves de Sousa, que era também o vigário-geral. O internato foi transformado em seminário. Sem lembrança ou comemoração, completaram-se seis décadas, no início deste ano. Pois o Seminário Menor São José abriu suas portas em 15 de fevereiro de 1960. 

Ocorreu então uma circunstância de alcance ecumênico, na história da Diocese e da Igreja Batista. O professor de inglês não pediu demissão nem foi demitido do corpo docente. Em consequência, os primeiros seminaristas da Diocese de Divinópolis tiveram como professor um pastor protestante. Bom sinal de que haviam ficado para trás as polêmicas relatadas pelo acadêmico da Academia Divinopolitana de Letras (ADL), Elizeu Ferreira, no seu livro “Os Batistas de Divinópolis rumo ao Centenário”, publicado em 2013. 

Infelizmente, aquela convivência durou apenas um ano, pois o reverendo Bittencourt assumiu funções eclesiásticas em Belo Horizonte, no início de 1961. Muita gente haverá, em Divinópolis e na região, que se recorde com simpatia do professor Bittencourt, como nós, estudantes, o chamávamos. [email protected]

 

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