Adair Otaviano e Edson Sousa protagonizam cenas de novela

Ricardo Welbert 

A novela protagonizada pelos vereadores Adair Otaviano e Edson Sousa (ambos do PMDB) teve capítulo quente na tarde de quinta-feira, 28, quando o presidente da Câmara, já nos minutos finais da reunião ordinária, se negou a dar direito de resposta ao outro, que exigiu a oportunidade após ter sido citado nominalmente. Adair negou ter citado o colega e cortou o áudio dele quando foi chamado de "aprendiz de ditador". Ouvidos pelo Agora após a reunião, um pôs a culpa no outro. Adair diz que Edson o persegue há muito tempo. Já Edson afirma sofrer retaliação por ter proposto uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). 

O episódio do dia começou com Edson citando o requerimento que entregou para pedir a abertura de uma CPI com o objetivo de investigar todos os processos de contratações e nomeações de cargos e funcionários terceirizados e comissionados na Câmara, com a justificativa de que, aparentemente, as contratações não têm atendido a critérios atributivos e de competências dos cargos. 

Edson disse que na mesma tarde iria ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) entregar documentos e que também iria a um cartório para registrar a garantia de que, a partir de então, qualquer vereador que pedir abertura de CPI terá a assinatura dele.  

— Já assinei CPI até para me investigar. CPI não é instrumento para condenar e nem pra santificar ninguém. É uma atividade parlamentar dos sistemas democráticos. Comigo não tem picuinha. Toda CPI que tiver aqui, seja contra mim, minha família ou quem quer que seja, contará com a minha assinatura. Assino todas, porque nunca me furtei de assinar uma CPI, porque acredito que ela seja um instrumento para defender o inocente e condenar quem faz maracutaia. Por que ter medo de assinar CPI? O que está atrás dessa curva? — questionou.  

Fundamento regimental 

Em seu pronunciamento, Adair rebateu as críticas. 

— Eu não impedi nenhum pedido de CPI. Quando recebi o pedido através do requerimento CM 185/17, do vereador Edson Sousa, pedi ao procurador-geral da Câmara para analisar o pedido e verificar se havia fundamentação legal. Se houvesse, lógico que eu o acataria. Mas, recebi um parecer no dia 25 de setembro de 2017, dizendo que de acordo com as condições de procedibilidade analisadas à disposição do artigo 98 e seguintes da resolução 392/08, que institui o Regimento Interno da Câmara, a Procuradoria não encontrou fundamento regimental para o pedido formulado — disse.  

O presidente disse que a excepcionalidade da instituição de CPI passa necessariamente pelo atendimento aos requisitos listados pelo procurador.  

— Ela não pode ser fundada em razões de estrita conveniência político-partidário, sob pena de deslegitimar-se a partir do descrédito. As razões que motivam um pedido de CPI devem ser sérias, materializadas no mínimo em indícios de ocorrência de um ato que possa atentar contra o interesse público e às ordens constitucional, legal, econômica e social do município. O pedido não tem fundamentação legal. Não fui eu que não o quis receber —acrescentou, citando que cargos de livres nomeação e exoneração (cargos comissionados) são de competência exclusiva da presidência da Casa.  

Ainda segundo Adair, muitos dos vereadores que assinaram o pedido junto com Edson não sabiam o fundamento da proposta. Por isso, três deles retiraram suas assinatura quando leram a fundamentação. 

— É muito feio vereador que vem trabalhar pelo cidadão dizer que isso não é picuinha pessoal. É picuinha pessoal e partidária. Isso Se tem alguém mal resolvido na Câmara, não posso resolver o problema. Vou agir como magistrado. Acatei o pedido de CPI contra a Copasa, pois ele tinha fundamentação legal para instaurado — disse Adair, afirmando que Edson recebeu cópia do parecer da Procuradoria.  

Palavra  

Quando Adair terminou o discurso, Edson pediu a palavra ao presidente em exercício, Josafá (PPS), afirmando ter sido citado nominalmente por Adair.  

— Nominalmente o senhor não foi, não — disse Josafá, orientado por Adair, que estava ao lado dele e já se preparava para assumir o comando da Mesa.  

— Eu fui citado, uai. Fui ou não fui? — Perguntou Edson aos colegas e recebendo confirmações de Ademir Silva (PSD), Cleitinho Azevedo (PPS) e de Roger Viegas (Pros) de que havia sido citado. A gravação do pronunciamento de Adair, reproduzida nesta reportagem, mostra que ele citou o nome de Edson ao dizer quem pediu a CPI.  

Adair voltou à cadeira de presidência, enquanto Edson pedia novamente o direito de resposta. Adair abriu o microfone e disse que "citação pessoal ocorre quando o vereador cita nominalmente um colega".  

— Não citei nominalmente nenhum dos vereadores — disse Adair.  

— Citou — continuou o outro.

— Não citei não e não vou conceder a palavra — repetiu Adair.  

— O senhor é um "aprendiz de ditador" — disse Edson, tendo o áudio imediatamente cortado a pedido de Adair.  

A reunião seguiu com a secretária Janete Aparecida (PSD) assumindo a leitura de projetos. Em seguida houve um minuto de silêncio pela morte de Maria Luzia da Silva, moradora do povoado de Paivas.    

Um culpa o outro 

Quando a reunião foi oficialmente encerrada, tanto o público na Câmara quanto os telespectadores que assistiam à transmissão da reunião puderam ver Edson de pé, reclamando por não ter tido o pedido de fala atendido. Em seguida ele se levantou e deixou o plenário, ainda reclamando.  

Abordado pela reportagem do Agora, criticou a postura do colega.  

— Ele está mais como um "aprendiz de ditador". Você pôde ver que ele me citou, eu pedi a palavra e ele não deu. Mas ele está entrando para a história como primeiro presidente da Câmara de Divinópolis denunciado por duas vezes à Comissão de Ética, pela secretária e pelo líder do partido. Ele teve um problema na Justiça, na qual ele tinha que fazer estágio de direito e não foi fazer, ganhando pela imprensa o apelido de “Cara, Crachá”. Entrei com pedido de CPI e ele negou. Ele está achando que é o avô de Deus. Ou ele está mal de saúde ou é um prepotente. Essa Casa virou uma farra, mas vou enfrentar ele. Ele não está acima da lei, não — disse Edson, saindo do local.  

A reportagem foi ao gabinete de Adair Otaviano colher os contrapontos dele para as acusações de Edson.  

— É picuinha da parte dele comigo, mas começou no sábado que antecedia a eleição, quando ele trabalhou o sábado inteiro do dia anterior à eleição para poder me derrubar politicamente, da mesma forma que fez com outros vereadores. Porém, eu ganhei a eleição, o nome do PMDB era o meu, até por merecimento após quatro mandatos. Ele tentou desarticular a minha candidatura para a liderança do PMDB e de lá pra cá fui tachado por ele como inimigo dentro do partido. Sou amigo de todos no partido. O PMDB me aceita e me quer na frente, junto com o prefeito Galileu — disse Adair.  

Perguntado se o embate entre os dois prejudica os interesses públicos de Divinópolis, Adair se esquivou.  

— Da minha parte, não atrapalha. Eu só estou me defendendo — finalizou.  

 

 

 

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