Acolher

Olá! Como vai? A forma como inicio este artigo pode parecer inapropriada. Perguntar a um leitor que não conheço e que provavelmente não me poderá responder, parece tolice. Mas é proposital minha pergunta introdutória. Quero provocá-lo!

Na realidade, não é comum apenas perguntar a uma pessoa distante: ‘como vai?’ É incomum perguntar a qualquer pessoa desconhecida com demonstração de apreço. Uma pessoa em condição de rua, um pedinte, uma pessoa carente, até mesmo alguém que não carregue o estereótipo de desprezível socialmente. Simplesmente, não parece, a muitas pessoas, que o outro realmente importe.

Desejo refletir brevemente sobre isso. Para ilustrar meu pensamento, desejo contar uma experiência pessoal. Tive a oportunidade de visitar a nação de Israel algumas vezes (um lugar incrível!). Como é de se esperar, há muitos lugares especiais ali, e que provocam emoções novas e importantes na alma e no espírito. Contudo, não são os lugares especiais que quero apontar. O que me chamou a atenção em cada viagem foi a multidão de pessoas que visitam Israel. Entre peregrinos e caravanas de turistas, uma verdadeira multidão. Percebe-se logo ao chegar ao Aeroporto Internacional Bem Gurion, em Tel-Aviv, um formigueiro humano.

Chegando ao hall de entrada do aeroporto, após passar pelo check-in, tiramos algumas fotos e recebemos informações. E o mais importante: uma forma de identificação do grupo (bonés e camisetas de cores iguais etc.). É a forma mais segura para ninguém se perder do grupo durante o passeio. Logo, fica bem claro o motivo. Uma multidão se movimentando nas ruas; pessoas de várias nações do mundo; ouvimos várias línguas e diversos dialetos diferentes. Caminhamos em um grupo de 50 ou 60 pessoas e, de repente, temos que romper um grupo estrangeiro de 100, 200 pessoas. Não é difícil se perder. O turismo em Israel atrai milhões de pessoas. É a terceira fonte de renda do país.

O que há nisso que me sirva? Aqueles milhões de estrangeiros são, em sua maioria, pessoas em busca de um conhecimento maior de Jesus. Ouvimos orações em todas as esquinas. Clamor em todos os pontos bíblicos identificados. Milhares de pessoas clamando por Jesus.

Andando por aquele lugar e vendo a multidão, recordei do relato bíblico da vida de Jesus. Multidões o seguiam diariamente, dizem as Escrituras. Alguns historiadores apontam para uma multidão constante que flutuava entre 5 mil e 10 mil pessoas. Esse número confirma o relato dos Evangelhos, quando da citação da multiplicação dos pães e peixes. “Uma grande multidão o seguia” (João 6.2). O número de pessoas era de quase cinco mil (João 6.10).

Jesus era seguido por uma multidão que, assim como em nossos dias, buscava algo mais que palavras de um sábio. Eram pessoas famintas, miseráveis, doentes, excluídas, esquecidas, enfermas, deficientes, incapazes, depressivas, oprimidas, desgastadas da vida. Poderia comparar a multidão que seguia a Jesus com os refugiados de nossos dias. Despatriados, perseguidos, indesejados, miseráveis. Repito mais uma vez: palavras de motivação, discursos filosóficos, citações de grandes pensadores não era o de que precisavam. Aquelas pessoas, à semelhança dos que carregam a mesma realidade, necessitavam de algo mais que palavras. Necessitavam de acolhimento e socorro.

O homem moderno perdeu o jeito com essa forma de amor – chamada caridade. O mundo business ensinou ao homem moderno o quanto vale o ouro ou a moeda de seu país. Mas, nada ou quase nada, o homem moderno conhece do quanto vale um ser humano. Talvez por esta razão, antes de ser acolhedor e misericordioso, o homem pergunte: “Quanto ganho com isso?”. Outros aprenderam a mais miserável forma de hipocrisia, chamada religião. Talvez, por esta razão, antes de ajudar, perguntem: “Quem é?”.

Jesus multiplicou o alimento sem buscar a identidade dos famintos, sem perguntar a nacionalidade ou as intenções em relação a ele. Jesus curou, sarou, restituiu vida às pessoas, sem lhes perguntar pelo endereço de sua igreja ou o nome de seu líder religioso. Apenas acolheu e socorreu.

Quando você pensar em caridade e acolhimento, lembre-se que essa é uma forma de amar o próximo sem fazer perguntas. Porque acolher não é perguntar. Acolher é a resposta!

Israel Leocádio da Silva

 

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