Ações de almas estão entre os raros documentos no IHP de Pitangui

 

Ricardo Welbert

Completaram ontem, três meses que um ataque a bomba a uma agência do Banco do Brasil incendiou o prédio que abrigava o Instituto Histórico de Pitangui (IHP), Pitangui. Por causa disso, todo o acervo de imagens sacras e os milhares de documentos históricos foram guardados em outros imóveis e não estão acessíveis ao público.

Com o objetivo de conscientizar a população pitanguiense e também os pesquisadores e demais interessados no patrimônio histórico e cultural, o IHP lançou uma campanha. De acordo com o jornalista Marcelo Freitas, que é um dos diretores do instituto, apesar de o município ter mais de 300 anos e ser um dos mais antigos de Minas Gerais, muitos moradores desconhecem a importância do lugar.

 — O IHP foi fundado há 49 anos com o objetivo de preservar e tornar públicos os documentos e as peças de arte sacra que retratam a história de Pitangui, mas que ainda é pouco conhecido pela população. Eles sabem que existe o acervo, mas não tem uma noção mais clara sobre o fato de que ele possui um conteúdo importantíssimo para a história de Pitangui, que nos remete às histórias de Minas Gerais e do Brasil — explica.

Um exemplo desses documentos são as ações de almas. Registros nos quais alguém que contraía uma dívida jurava sobre uma Bíblia que o compromisso seria quitado. Caso contrário, quem adquiriu o empréstimo iria direto par ao Inferno quando morresse.

— Esses documentos mostram um período muito importante da nossa história. Por meio deles podemos perceber como a separação entre Estado e Igreja era uma coisa muito abstrata. Era tudo muito misturado. Essa é só uma das muitas leituras que podem ser feitas disso — lembra Marcelo.

 Imagens sacras 

O acervo sacro do IHP reúne 45 peças. Atualmente elas não podem ser vistas pelo público, porque estão armazenadas em local improvisado e o acesso a elas só pode ocorrer em espaço apropriado e que tenha iluminação e climatização adequadas.

— É preciso fazer com que as pessoas descubram a importância desse acervo e tenham orgulho de ter na cidade uma organização sem fins lucrativos que dispõe de um acervo tão importante — acrescenta.

Momentos de horror

O ataque a bomba à agência bancária ocorreu durante a madrugada do dia 4 de outubro. A presidente do IHP, Maria José Valério, lembra que foi acordada pelos barulhos das explosões, que balançavam as janelas de casa. Ela também ouvia tiros que pareciam não acabar. Resolveu, então, acessar a internet. Viu as primeiras informações sobre o ataque em um grupo no Facebook. Imagens mostravam que o fogo já chegava ao terceiro andar, que abrigava o acervo histórico.

— Foi terrível ver as chamas lambendo as janelas do instituto no terceiro andar, impotente lá em baixo, sem poder fazer nada. Tínhamos todas as chaves em mãos, mas não podíamos entrar por causa do fogo — conta. 

Apoio financeiro

Em um segundo momento da campanha, o IHP pretende lançar um projeto para arrecadar recursos para conseguir uma nova sede. A campanha também visa higienizar o acervo, que ficou coberto de fuligem, e dar sequência ao trabalho de reorganização dos documentos.

— É para que as pessoas entendam que há uma sequência de tarefas a serem realizadas, não apenas a mudança para uma nova sede. A manutenção de uma organização técnica desse porte custa dinheiro. É preciso ter pesquisadores trabalhando. A própria manutenção do instituto em si é cara. Tem que ter porteiro, segurança e equipamentos contra incêndio. Uma estrutura básica de garantia de um funcionamento mínimo da instituição. Mas, por enquanto, o mais importante é que as pessoas tenham consciência da relevância do acervo — explica Marcelo.

 

Comentários