A República dos tolos

Antônio de Oliveira 

 

Em 1881, Padre Correia de Almeida lança o livro ARepública dos Tolos, um poema herói-cômico-satírico. Correia de Almeida despreza o privilégio, a discriminação, a corrupção. Na milícia dos parvos, eu, e tu, nós, vós, eles, temos praça, afirma Correia de Almeida. O número dos tolos vale como o infinito. 

“Entre um governo que faz o mal e o povo que o consente, há certa cumplicidade vergonhosa”. Frase de Victor Hugo. Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”. 

Confrontando os dois pensares, pode-se dizer que, para não ter vergonha de ser honesto, é preciso também reagir à cumplicidade vergonhosa. Difícil, mas não impossível. O povo unido jamais será vencido. E o povo, todos nós, continuamos a eleger e reeleger corruptos, embora esteja difícil de escolher bons candidatos porque o sistema está gangrenado. O político sabe que ele pode votar a lei que quiser em benefício próprio. O povo continua um detalhe. Detalhe indispensável, porém, seja na hora de pagar impostos diretos e indiretos, taxas e outras contribuições, seja na hora de votar. Pelo cabresto ou sem cabresto. As radicalizações ideológicas também atrapalham. À vezes o critério é: O candidato se diz de esquerda ou de direita? Para os esquerdistas, se é de esquerda, é bom; se é de direita, não serve. E vice-versa, para os conservadores. O voto também para quem se diz desta ou daquela religião sensibiliza parte do rebanho de eleitores. O rótulo vale mais que o conteúdo, o discurso mais que as ações, as excelências... Não importando as baixezas.  

Nelson Rodrigues, o criador da expressão complexo de vira-lata, disse que o brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Sem autoestima, sua alegria é sofrida... 

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