A Igreja de luto

Augusto Fidelis

Bem, dizer que toda a Igreja está de luto talvez seja um exagero. A Igreja é um complexo de dioceses, paróquias, ordens, irmandades, movimentos e pastorais sem fim.  Às vezes não conhecem uns aos outros, nem sempre comungam das mesmas ideias, caminham em direções diferentes, embora sejam todos membros do mesmo corpo. Mas, pelo menos do Brasil, parte dos católicos está enlutada com a morte de dom Henrique Soares da Costa, bispo de Palmares, no estado de Pernambuco, ocorrida no dia 18 deste mês, vítima da covid-19.

Durante sua breve vida, já que se despediu deste mundo com apenas 57 anos, teve uma existência dedicada ao serviço da Igreja, com profundo amor a Nosso Senhor Jesus Cristo e à sua mãe Maria Santíssima. Uma das vozes conservadoras dentro da Barca de Pedro, tal qual João Batista, a mostrar Jesus entre os homens: “Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira o pecado do mundo”.

Foi um crítico da Teologia da Libertação, que teima tirar Jesus do altar para colocar o próprio ser humano. Mas o Salmo 145 diz com muita clareza: “Não ponhais vossa fé nos que mandam, não há homem que possa salvar. Ao faltar-lhe o respiro ele volta para a terra de onde saiu; nesse dia seus planos perecem. É feliz todo homem que busca seu auxílio no Deus de Jacó, e que põe no Senhor a esperança”.

Dom Henrique colocou sua esperança em Deus e contribuiu, com suas homilias, entrevista e publicações, que muitas almas fizessem o mesmo. No dia 16 último, festa de Nossa Senhora do Carmo, concordou com os médicos em ser intubado, e declarou: “Minha vida pertence a Deus; a minha vida está nas mãos de Deus”. Morreu dois dias depois, no sábado, que é o dia dedicado a Nossa Senhora, na liturgia semanal. 

Numa de suas homilias, dedicada aos sacerdotes e seminaristas da sua diocese, ele falou sobre São João Maria Vianey, patrono dos padres. O padre é instituído para mostrar o caminho do céu, mostrar com a vida, com a palavra, com as atitudes. O sacerdote não é padre para ele mesmo, mas  é instituído em favor da Igreja e de toda a humanidade. A missão do padre não é cuidar de saneamento, de habitação, mas falar do céu, não ter vergonha de falar de Cristo. 

O serviço do padre não é igual ao do advogado, do assistente social ou do ativista político, mas falar de Deus, pregar as coisas de Deus. Há ONG para cuidar do mico-leão, do jacaré, das árvores, de tantas outras coisas, mas não há ONG para cuidar de Deus, falar de Deus, administrar os sacramentos. Ao administrar os sacramentos, o sacerdote dá Deus à humanidade. Que o Senhor da messe nos envie operários, que não tenham vergonha de falar de Cristo, a exemplo de dom Henrique.

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