A escrava

Augusto Fidelis

 

Causou comoção na mídia, nas rodas de boteco e em todos os lugares onde tenham reunido pessoas nos últimos dias, a reivindicação da ministra de Direitos Humanos, Luislinda Valois, que desejava receber o seu salário de aposentada como desembargadora do Tribunal Regional da Bahia, acumulado com o salário de ministra, num total de R$ 61,4 mil mensais.

A atual legislação proíbe o acúmulo de salários. No entanto, há centenas de pessoas recebendo mais de R$ 100 mil por mês, justamente com os acúmulos, e a Justiça não consegue dar um jeito nisso. Se Luislinda ficasse à toa em casa, ela já ganharia mais de 30 mil, referente à aposentadoria. Na qualidade de ministra, ela só recebe cerca de R$ 3 mil, pois o total não pode ultrapassar o teto constitucional de R$ 33,7 mil.

Como há muitos precedentes, a ministra estava certa ao reivindicar, mas errou na forma de pedir e na comparação. Ora, dizer que um salário de R$ 3 mil é trabalho escravo, certamente Luislinda não sabe o que é trabalho escravo. Sendo juíza, possivelmente tenha se deparado com muitos casos enquanto na ativa. Pegou mal justificar a necessidade de mais dinheiro para arrumar o cabelo, comprar maquiagem e roupas.

Aliás, se a preocupação da ministra fosse outra, teria muito para fazer, pois a violação de direitos no país é diuturna. Inclusive, o próprio governo, o congresso, os tribunais, os traficantes, os meliantes de toda ordem não dão sossego. Os ricos roubam do governo, o governo rouba dos pobres, que são vítimas também de toda espécie de gente desocupada, que fica à espreita dos incautos, quando estes vão à batalha em busca do sustento de suas famílias. Já dizia Santo Agostinho: “Sem justiça social, o que são os governos senão bandos de ladrões?”

Para barrar a investigação contra si, o presidente Michel Temer liberou para os deputados mais de R$ 1 bilhão em emendas parlamentares. Que emendas são essas? Onde esse dinheiro será investido? No meu entendimento, não será investido em nenhum outro lugar senão nas campanhas eleitorais.

O arranjo do STF no salvamento do senador Aécio Neves está servindo para soltar aqui e ali todos os políticos corruptos,  presos por malfeitos. Enquanto isso, o governo manobra para arrancar o couro do povo, tudo com muita sutileza. Luislinda pelo menos, teve a coragem de abrir seu coração e dizer que precisa de mais dinheiro para cuidar da beleza. Gente, manter a beleza não é fácil. Eu que o diga!

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