A crônica da hipertensão arterial

Dr. Sérgio Duarte

Seu Coração

"Doutor, vim à consulta, pois o médico não me aprovou no exame de vista para renovar minha habilitação. Disse que estou com pressão alta. Minha pressão sempre foi baixa e não estou sentindo nada. Certa vez, até estive num médico. Minha pressão estava alta  e ele me passou  um diurético . Mas usei a  caixa toda e a pressão melhorou. Preciso somente de um relatório seu me liberando. Eu não tenho nada, sinto-me em perfeitas condições."

Parece história, mas este relato é a mais pura realidade. Não se trata de ficção. Grande parte dos pacientes chega ao consultório desta forma. Desconhecem ser hipertensos e um número expressivo de pacientes padece deste mal por um longo período sem tratamento até descobrir.  Ironicamente, o fato de não sentir sintomas leva a um número maior de complicações e riscos de morte, pois, neste período, o organismo sofre uma série de adaptações negativas, maléficas e  irreversíveis.

Veja o exemplo deste paciente: "Minha pressão sempre foi baixa/Não estou sentindo nada/A pressão melhorou/Não tenho nada/Me passou um diurético". Não nascemos hipertensos (salvo casos específicos). Entretanto, envelhecemos e, como se ter de envelhecer já não fosse algo indesejável, nosso organismo acompanha a ordem natural e, com isso, vem o envelhecimento vascular. Assim, tende-se a um aumento de pressão com o passar dos anos.

Porém, aqueles indivíduos que mantêm uma boa qualidade de vida, mantendo um ritmo de atividade física regular, peso adequado e alimentação saudável geralmente chegam à velhice com uma pressão mais controlada, podendo até mesmo não desenvolver hipertensão. Portanto, de fato não nascemos hipertensos, mas nos tornamos hipertensos. O fato de um hipertenso não sentir sintomas traz uma grande desvantagem ao nosso organismo. Pois, neste período, foram  expostos ao efeito da hipertensão vários órgãos, principalmente  os rins, levando a uma  (Insuficiência Renal), o coração (insuficiência cardíaca/hipertrofia ventricular/dilatação/infarto) e o cérebro (derrame cerebral). Por isso, alguns chamam a hipertensão de assassino silencioso.

Contrariamente ao que muitos pensam, o fato de a pressão haver sido controlada com o uso de medicamentos não quer dizer que ela foi curada. Simplesmente, ela está sob controle por ação da medicação que está sendo usada diariamente. Muitas vezes, deparo-me com pacientes que vinham mantendo pressão controlada sob uso de medicações. Com o tempo, simplesmente somem do consultório e retornam, às vezes, anos após, com hipertensão severa. Em muitos casos, substituíram a medicação por medicações menos potentes que antes eram utilizadas.

Outros insistem em tratar da hipertensão somente com uso de diuréticos, os quais, na maioria das vezes, deveriam ser usados em conjunto com medicação anti-hipertensivas. A monoterapia somente com diuréticos não é recomendada (salvo casos específicos). Lembre-se: sua hipertensão foi adquirida, ou melhor,  desenvolvida pelo passar dos anos em consequência do sedentarismo, aumento de peso, alimentação inadequada (excesso de sal), tabagismo ou até mesmo hereditariedade. Você não está tratando de um doença adquirida como uma gripe ocasionada por um vírus passageiro.

Importante salientar que, tão  importante quanto  prescrever uma medicação, e suspender o fator que está precipitando esta pressão. A maioria dos  pacientes que muda sua qualidade de vida, passando a realizar atividades físicas regulares (seja uma caminhada diária), controle alimentar e perda de peso, conseguem obter êxito e suspender a dependência das medicações.

Não espere pelos sintomas da hipertensão (cefaleia/dor em nuca/náuseas/vertigens/sangramento nasal), faça sua avaliação preventiva. Em meu tempo de estudante de medicina no Rio de Janeiro, tive o prazer de ter aulas com o  grande mestre  cardiologista Dr. Enéas Carneiro, o qual dizia: "Loucura é fazer sempre a mesma coisa esperando resultados diferentes". Esta frase se adequa perfeitamente à  aquele  paciente que espera manter o peso ou controlar a pressão sem fazer nada a seu favor.  Antes de perguntar ao médico por que você está hipertenso, pergunte a si próprio o que você faz para não ser hipertenso.  Se você tem dúvidas e quer participar desta coluna, encaminhe sua pergunta ou sugestão, pois aqui vamos tratar do seu coração.

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