A conta é de quem mesmo?

Desde que a caravelas de Pedro Álvares Cabral aportaram em Porto Seguro, em 1500, na Bahia, o Brasil é um país desigual. Ou melhor, antes mesmo de o Brasil ser o Brasil, ele já era uma nação desigual. Os portugueses desceram aqui, tomaram as terras dos índios e construíram um país desigual. De lá para cá, 519 anos se passaram, e o Brasil não evoluiu, continua exatamente como os portugueses o projetaram. O sistema é o mesmo: muitos trabalhando para sustentar poucos. Em outras palavras, pobres trabalhando de sol a sol para bancar os ricos. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, onde os ricos são mais ricos que os de outros lugares, inclusive em comparação com países desenvolvidos. Para sermos mais específicos, os 5% mais ricos do Brasil recebem, por mês, o mesmo que os demais 95% da população juntos.

 A massa de população empobrecida não para de crescer, apesar dos poucos avanços que o país teve nos últimos anos. Ainda segundo a ONU, se a tendência de desigualdades registrada nos últimos 20 anos se mantiver, a igualdade salarial ente homens e mulheres só acontecerá em 2047. Por sua vez, os negros levarão 70 anos para ter os mesmos salários que os brancos. E, apesar de todo esse cenário avassalador, assustador, que nos faz duvidar de um futuro igual e do fim da luta de classes, os nossos representantes não conseguem dar um passo sequer na direção contrária. Pelo contrário, parecem que trabalham a finco, todos os dias, para que esse cenário permaneça exatamente igual, como os portugueses queriam: os índios e os negros trabalhando para sustentá-los, para manter os seus padrões de vida luxuosos.

Ontem, o brasileiro teve que enfrentar mais um 7 a 1. A reforma da Previdência foi aprovada em primeiro turno no Senado. Para os mineiros, a vergonha foi maior que o 7 a 1, pois os três senadores que representam o Estado – Antônio Anastasia (PSDB), Rodrigo Pacheco (DEM) e Carlos Viana (PSD) – votaram a favor da proposta, que tira mais direitos do pobre. Que obriga o pobre a trabalhar mais, a contribuir mais com uma Previdência que, se está quebrada, se está realmente falida, não foi o pobre que quebrou. E, ao chegarmos neste ponto, onde o pobre perde os poucos direitos que lhe sobraram, nós chegamos à desigualdade social. Chegamos mais uma vez na luta de classes, que muitos querem desmerecer, querem desmoralizar, limitando-a a: comunista. Enquanto eles fazem chacota de uma luta que é válida, que é necessária, os pobres perderam mais um pouco ontem. Foram condenados a trabalhar mais, a contribuir mais com um sistema que não foi feito para favorecê-lo.

Para se ter uma noção do quanto o assunto é sério e grave, ontem, o secretário especial adjunto de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, lamentou, em sua conta no Twitter, a perda de R$ 76 bilhões que seriam utilizados para incentivo à empregabilidade dos mais pobres. Isso prova ou não prova que quem paga a conta – que não é sua – no fim das contas é pobre? Prova ou não prova que devemos continuar lutando diariamente pela igualdade social? Prova ou não que o Brasil é praticamente o mesmo de Pedro Álvares Cabral?

Comentários