A briga não é pelo povo

Editorial 

Divinópolis, a princesinha do Oeste, aquela que já foi a 5ª melhor cidade para se viver em Minas Gerais, no início dos anos 2000, completou na última segunda-feira, 1º de junho, 108 anos. Ah, princesinha, 18 anos separam o título da quinta melhor cidade para se viver no estado do atual caos que você vive hoje. Afinal, o que comemorar? A situação, que já era difícil e beirava a insustentável, só piorou de alguns anos para cá. Os divinopolitanos precisam se equilibrar entre a infraestrutura precária da cidade, o medo do coronavírus, a falta de investimento na saúde e na educação, a ganância dos políticos e de grandes empresários, o medo das demissões, o desemprego que já bate à porta de alguns, os politiqueiros de plantão, as notícias falsas e a irresponsabilidade de gestores públicos. São 108 completados, e o que comemorar? Como olhar o copo meio cheio, quando o lado meio vazio bate à porta da população, dia após dia? 

Antigos gestores conseguiram transformar Divinópolis na cidade do futuro. Nada é para o agora. Nada é para ser usufruído no presente, tudo é para o futuro. A cidade vive de promessas. O Hospital Público Regional Divino Espírito Santo é uma delas. A Estação de Tratamento de Esgoto do Rio Itapecerica (ETE Itapecerica) é outra. Rede de esgoto e asfaltamento nos bairros periféricos também. As casas populares para as famílias do Alto São Vicente idem. Tudo é para o futuro. Nada, absolutamente nada é para agora. Com o discurso de futuro, a cidade parou no tempo. Divinópolis não vive, não evoluiu, simplesmente existe. Executivo e Legislativo vivem às turras. E essa luta não é pela população, mas, sim, pelo ego dos ditos “representantes do povo”. A guerra é pelo poder e para o chamado “benefício próprio”. 

Se antes do coronavírus a cidade já estava no CTI, agora, com a pandemia, respira com ajuda de aparelhos. E não há nada que traga esperança. Alguns se apegam aos discursos vazios de alguns políticos e outros politiqueiros, pois encarar a realidade é difícil demais. Enxergar que tudo vai de mal a pior e que não há muita esperança dói, então o jeito é se agarrar à fantasia. Os divinopolitanos veem inertes, em silêncio, cidades menores, vizinhas, crescerem disparadamente. Veem em silêncio cidades menores investindo na saúde, na educação e na infraestrutura. É triste, mas ao povo daqui restou apenas a ilusão e o silêncio. Afinal, o que dizer? O que comemorar? 

Sem muita expectativa, o jeito é pedir aos céus que, no próximo ano, talvez haja algum acalento para este povo sofrido. É pedir que em 2021 algo tenha restado de tudo isso, para que a cidade possa ser reconstruída, aos poucos. É pedir que os tempos de glória, de ouro voltem a reinar sobre a princesinha do Oeste. Feliz vida, Divinópolis, com esperança renovada. Que seu povo e seus representantes sejam dignos de sua beleza e seu esplendor. E que eles não desistam de você. O trabalho é duro, mas com vontade e amor tudo é possível. Parabéns por resistir, mesmo diante do caos. 

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