A “banca” não funcionou

Principal advogado da “banca” de Lula, Cristiano Zanin Martins disse com todas as letras que foi pego de surpresa com a decisão do juiz Sergio Moro em decretar a prisão do seu cliente, “pois ainda tramitavam recursos” e ele iria apresentar outro ao TRF 4 amanhã, em Porto Alegre.

Zanin é bobo “pero no mucho”, pois na verdade ele tinha a certeza de que nenhum juiz teria a coragem de mandar prender o presidente antes que todos os possíveis e impossíveis recursos fossem decididos. Foi mais surpresa do que incompetência, afinal ele não é sozinho na questão, outros três ou quatro bons profissionais estavam 24 horas por dia pensando somente em como não deixar Lula ser preso.

Mas quem ficou surpreso e feliz foi a grande maioria do povo brasileiro, que, surrado pelo tempo e a má vontade dos tribunais, não acreditava que tão cedo fosse possível uma decretação de prisão. Na verdade, pensava-se que um ou outro ministro, como Marco Aurélio Mello, iria “melar” a decisão do STF, da qual foi voto vencido, com uma outra ação, que já disse estar preparando para apresentar na reunião do tribunal nesta quarta-feira.

Incrédulo, o povão, os políticos e provavelmente os próprios juízes dos diversos tribunais passaram o dia acompanhando o que acontecia via noticiário das TVs, direto de São Bernardo, onde Lula e seus asseclas estavam reunidos no sindicato que o catapultou para o cenário nacional da política tradicional. Se na verdade inteligente fosse, Luiz Inácio teria continuado a ser presidente do seu sindicato, apoiando pessoas que pudessem melhorar a vida dos trabalhadores que dizia representar.

Só que a vaidade fala mais alto. Bastou que surgisse a primeira chance em 1989 e lá estava ele disputando com Collor a cadeira presidencial. Só não ganhou a corrida porque o seu passado tinha um arranhão que o eleitor conservador não perdoou.

Lech Walesa, um presidente de Sindicato da Polônia, tanto fez que acabou sendo eleito presidente e governou o país entre os anos 90 e 95. Solidarność, na verdade Solidariedade, era o nome do partido de Walesa, que ficou famoso por ter saído “de baixo” e chegado à presidência do país. Ao final do mandato, depois de fazer tudo o que podia de errado, ao contrário de Lula, saiu do poder com quase 0% de aprovação.

Menos culto, mas “muito mais inteligente”, Lula viu em Walesa um exemplo a ser seguido e continuou se candidatando na esperança de um erro político, que veio quando FHC deixou escapulir a inflação para mais de 80%, embora tenha implementado medidas importantes durante os seus governos, como a questão da telefonia, mas apresentou José Serra, um tipo esquisito logo apelidado de vampiro pela oposição. Serra era governador do Estado de São Paulo, mas considerado um candidato “meia-boca” nos meios políticos.

Por sua vez, Lula mostrou que não estava para brincadeira, e fez uma bela escolha de vice, um homem sério, o senador José de Alencar, um mineiro da velha cepa, honesto e trabalhador. Repetiu a dose e ganhou novamente, até chegar a Dilma, com uma aprovação de mais de 80% em todo o país. Fez do então “poste” uma presidente que, conforme ele sabia, não teria expressão e contava como certo em voltar quatro anos depois. Foi traído e deu no que deu. Os malfeitos apareceram, a roubalheira se escancarou, a Petrobrás quase quebrou, o Brasil virou um país líder das esquerdas da América do Sul e o vice Temer não perdeu tempo, juntamente com o seu MDB, escorraçando uma presidente fragilizada pela própria incompetência.

Neste ponto, volta-se ao início deste arrazoado: os advogados de Lula acreditaram nele, e ele, Lula da Silva, acreditou demais na sinceridade das mulheres quando lançou Dilma, esperando voltar depois de quatro anos. Se deu mal e, entre acertos e desacertos, aquele que já foi grande se apresenta como um bicho em um nicho de terror: preso, não se sabe por quanto tempo, tem o seu pensamento voltado para os anos 80, quando a PF o prendia para que informasse os passos que dava à frente do seu sindicato. Já deve ter entendido que agora é um Zé da esquina, embora ainda com mordomias aceitas apenas neste país tupiniquim.

 

Errata

Por um erro de diagramação, o texto do editorial de sábado/domingo saiu o mesmo da edição dos mesmos dias da semana passada. O texto acima é uma versão atualizada do que deveria ter sido publicado.

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