A ADL em casa

Raimundo Bechelaine

A Academia Divinopolitana de Letras (ADL), na última sexta-feira, 13, tomou posse oficialmente da casa que lhe foi cedida, no histórico e tradicional bairro Esplanada, para que ali fixe sua sede. A tarde de céu carregado prometia chuva iminente. Mas era só uma delicadeza dos deuses; eles mantiveram firme a densa abóbada de nuvens, para impedir que o sol e o calor incomodassem os mortais. Uma cerimônia sóbria transcorreu agradavelmente, ao ar livre, como fora programada. Acadêmicos, convidados e autoridades estavam presentes. O presidente Flávio Ramos e seu antecessor, Fernando Teixeira, pronunciaram breves e excelentes discursos. Este cronista leu poemas dos fundadores, fazendo memória dos nomes de Carlos Altivo, Jadir Vilela, José Maria Campos e Sebastião Benfica Milagre, que fundaram a ADL, há quase seis décadas. Bem a propósito, as sirenes das Oficinas da Rede Ferroviária soaram algumas vezes, lembrando o perfil da cidade e do seu povo trabalhador. Por fim, o senhor bispo diocesano, dom José Carlos, oficiou a bênção.

Academias literárias congregam os artistas das letras. Como instituições, têm rituais, leis e regimentos, atas e eleições, diretorias. Na verdade são casas de contradição, porque as artes não têm casas nem delas necessitam. Artes são como torrentes, não se deixam conter em limites. Não suportam paredes nem tetos nem pisos. Nem leis. Nem as da natureza. Anseiam por ruas e praças.

O animal humano é que precisa de casas, de leitos, de abrigos, de mesa posta na hora certa. Mas aqueles que se fazem artistas precisam é do espaço livre, do sem fim. São moradores de rua. Habitam a montanha, as nuvens, o ar e o mar, as ruas e as praças. Daí, que são seres de tensão, incontidos, dilacerados até. Naturalmente avessos às disciplinas e academicismos. Certamente por isso, não querem estar na ADL reconhecidos literatos conterrâneos, como Adélia Prado (Ela, que tem adêéle no nome de batismo!) e Osvaldo André e Lázaro Barreto, entre outros. Assim como fez também Drumond, em relação à Academia Brasileira.

Há, porém, os que acreditam nos benefícios da instituição e que é possível conciliar suas imposições e exigências com os vôos imprevisíveis da liberdade criadora. Sentem-se estimulados, fortalecidos e até inspirados na união e convivência entre os confrades. Esperam os membros da ADL que a nova casa lhes dará melhores condições para avançar na senda apontada e proposta há cinquenta e oito anos. Não se acomodarão. [email protected]

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