1º caso de coronavírus em Divinópolis completa 1 mês

 

Matheus Augusto

Em 8 de março deste ano, Minas Gerais virava sua atenção para Divinópolis, primeira cidade a confirmar um caso de coronavírus (Covid-19) no estado. Desde então, a Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) iniciou a elaboração e implantação do plano de contingência contra a doença. A um dia de completar um mês desde o primeiro caso confirmado, Divinópolis contabilizava, até ontem, 15 casos confirmados ‒ de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES) ‒ e 671 suspeitos ‒ segundo a Semusa. Os dados também apontam para nove pacientes com quadro sintomático internados no setor de enfermaria e três no Centro de Terapia Intensiva (CTI) da rede hospitalar na cidade; 464 pessoas foram orientadas a permanecer em isolamento domiciliar após o primeiro atendimento.

O questionamento de muitos empresários, trabalhadores e organizações comerciais é o mesmo: “Quando o comércio vai reabrir?”. Apesar de sem previsão, tanto em nível estadual quanto municipal, as restrições devem permanecer pelo menos até a próxima semana.

Otimismo sem data

O governador de Minas Gerais e também empresário, Romeu Zema (Novo), deu mais uma declaração otimista à categoria ‒ empresarial, não a política. Em entrevista à Rádio Itatiaia na manhã de ontem, Zema afirmou que o cenário aponta para o fim de parte das restrições de funcionamento do comércio. O discurso vem pouco mais de uma semana após o governador declarar um estudo para avaliar a viabilidade da reabertura de determinados setores da economia.

— Nesta última semana, nós observamos que a quantidade de casos continua subindo, mas numa proporção menor, o que é um ótimo sinal. Então, nós podemos dizer o seguinte: o número de novos casos aumenta dia a dia, mas com uma tendência à estabilidade e, posteriormente, até um decréscimo. Isso nos torna muito animados com relação a alguma medida de flexibilização para os próximos dias — pontuou.

Zema ainda citou que alguns municípios já têm retornado à normalidade. Segundo o governador, isso é possível, pois o grande problema do coronavírus é a aglomeração de pessoas e, nas pequenas cidades, o movimento é menor. “[Em algumas] não há nem transporte coletivo”, citou.

— No interior nós temos centenas de cidades que não têm sequer um caso. Eu tenho a informação que muitos prefeitos, vale lembrar que eles têm autonomia para tal, já flexibilizaram as atividades em suas cidades sem causar nenhum problema — frisou.

O governador ainda declarou que os prefeitos conhecem melhor a realidade local do que ele, que vive na capital mineira. Ainda segundo Zema, não é possível seguir a iniciativa das lideranças municipais e reabrir o comércio na Região Metropolitana e outras cidades mais populosas, uma vez que “são situações distintas que precisam ser tratadas de maneiras diferentes”. 

Zema ainda indicou que, apesar de não ter previsão para flexibilizar as medidas de isolamento social, uma decisão deve ser tomada apenas após o dia 13 de abril, data definida pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) para uma nova avaliação do cenário em Minas e da eficácia das medidas sancionadas até o momento. 

— A prioridade continua sendo a vida humana — reforçou.

Salário 

Sobre os servidores, Zema disse esperar divulgar ainda nesta semana a escala de pagamento e ressaltou que, desde 20 de março, a arrecadação do Estado caiu consideravelmente. Por fim, ele declarou que a prioridade será pagar a folha, e não fornecedores e prestadores de serviços. 

O governo estadual anunciou na tarde de ontem o pagamento integral, no próximo dia 9, aos  servidores da Segurança Pública e da Saúde. As demais categorias ainda não têm previsão para receber.

O povo acima da economia

Pelas redes sociais, o prefeito Galileu Machado (MDB) se manifestou na última sexta-feira, 3. Apesar de associações da cidade desejarem o retorno às atividades, Galileu afirmou que manterá os medidas de prevenção em vigor. 

— Quero falar especialmente aos empresários, que sabemos e somos sensíveis a todas as dificuldades, mas, neste momento, temos que manter o comércio fechado e restringir a circulação de pessoas. Estamos preservando a vida de nossos cidadãos. Em meio à pandemia, não há como voltar à normalidade. portanto, o isolamento horizontal é necessário para evitar uma tragédia ainda maior — pontuou.

Segundo ele, trata-se de uma decisão técnica, respaldada inclusive pelo poder público estadual.

— A decisão de não reabrir o comércio foi muito difícil de ser tomada, mas estamos seguindo a recomendação do Estado e da comissão técnica, que está empenhada em fazer o melhor para a cidade. São profissionais que estão dia e noite se dedicando a essa questão  e entendem que não se pode colocar a economia acima da vida do povo de Divinópolis — finalizou.

Divinópolis: centro regional

Quem também se pronunciou na sexta-feira foi o secretário de Saúde da cidade, Amarildo Sousa. Assim como o Estado, o Comitê Municipal de Prevenção e Enfrentamento ao Novo Coronavírus se reunirá no próximo dia 13 para uma avaliação do cenário e se há a necessidade de implantar novas medidas ou reduzir ou manter as atuais ações. Até um nova decisão, os decretos e as determinações previamente estabelecidos continuam em vigor por tempo indeterminado, ressaltou o secretário.

— O comitê se reuniu e fará uma avaliação, não a flexibilização das medidas. Estamos em um momento crucial, em que temos que fazer o isolamento, porque é agora que os nossos números vão começar a subir e a gente não quer que as pessoas corram ao hospital e não tenham vaga. Por isso eu peço, encarecidamente, que as pessoas respeitem o decreto. A gente é sensível, sim, ao empresariado e à questão do desemprego, mas existem órgãos do governo que estão atentos e eu espero que a gente passe por isso o mais rápido possível — destacou.

Apesar da restrição das atividades apenas ao considerado essencial, a movimentação nas ruas desagrada Amarildo, que pede aos moradores para deixarem suas casas apenas quando necessário e que mantenham a higienização das mãos, das roupas, objetos e do ambiente. Ele ainda citou que, mesmo com a aplicação de cloro em pontos estratégicos, a contaminação ainda é possível.

— Eu quero lembrar que a população aderiu ao isolamento desde o primeiro momento, mas a gente já percebe na rua que algumas pessoas estão afrouxando um pouco. O momento não é esse, o momento é de mantermos o isolamento, por favor. (...) Nossas equipes estão fazendo a higienização diária dos pontos de ônibus e das fachadas dos hospitais, mas isso não é suficiente, apenas ajuda a diminuir o risco de infecção — explica.

Diante da reabertura do comércio em algumas cidade, como Nova Serrana ‒ cidade autorizou e, desde ontem, academias, por exemplo, podem funcionar como adequações sanitárias e regulando o fluxo de pessoas ‒, parte do empresariado cobrou uma atitude similar na cidade. No entanto, segundo o secretário, em consonância como a fala do governo, Divinópolis é uma cidade com grande fluxo de pessoas e, além disso, é referência hospitalar na região. A Unidade de Pronto Atendimento (UPA), por exemplo, acolhe pacientes de São Gonçalo do Pará, São Sebastião do Oeste e Carmo do Cajuru. 

Assim, a volta ao trabalho nas cidades vizinhas pode gerar uma grave consequência a Divinópolis.

— Divinópolis é a cidade polo da região Oeste. Nós somos sede da Microrregião e somos polo da Macro, com 54 municípios. Nós tivemos notícia, sim, de alguns municípios que sinalizaram para a abertura do comércio, em desacordo com o decreto estadual, e isso nos preocupa, sim, uma vez que essas cidades têm uma fluxo de pacientes normalmente para Divinópolis. Com o aumento da infecção do coronavírus, eles não têm outro lugar para recomendar — esclareceu.

O secretário disse ainda manter contato com superintende regional, Alan Rodrigo da Silva, para que o órgão comunique tais cidades a manter o isolamento. 

— Também conversei com alguns secretários (...), e algumas prefeituras (...) fizeram uma análise dos números e, conscientemente, esse prefeitos e secretários voltaram atrás — destacou.

Por fim, o secretário declarou que é fundamental alinhar as medidas em nível regional no enfrentamento do coronavírus. 

— Os leitos que nós estamos preparando vão servir também à região. Não é possível fazermos essa distinção. E a gente vai precisar que eles colaborem também para que a nossa curva de infecção, a velocidade com que as pessoas adoecem, diminua e a gente não tenha então o perigo de desassistência para ninguém — informou.

Desrespeito

Em meio à crise, o dinheiro se torna ainda mais valioso e necessário para pagar as contas e garantir a alimentação. No 5º útil, nenhuma surpresa: filas crescentes na porta das agências bancárias e lotéricas para receber. A situação, no entanto, forçou a Prefeitura a emitir uma nota na tarde de ontem.

— Divinópolis viveu hoje um dia atípico em relação ao isolamento social. Em alguns determinados horários, houve aumento no número de pessoas circulando na área central, com destaque para as proximidades das agências bancárias. (...) Porém, é importante salientar que tal atitude, se tomada em desacordo com as regras de saúde pública para a circulação, pode colocar em risco todos os resultados até obtidos no controle da Covid-19 — criticou o Executivo.

Segundo a Prefeitura, mesmo com a autorização para funcionar, as empresas podem ser punidas caso não forneçam as condições sanitárias adequadas e o controle do fluxo de clientes.

— Os números que se apresentam são resultado, justamente, do rígido controle no contato entre as pessoas, o que fez diminuir os contágios. Agentes de saúde e as forças de segurança estão monitorando as ruas. Em caso de descumprimento, os responsáveis poderão ser punidos com a cassação do alvará e fechamento do estabelecimento, além de responder criminalmente, de acordo com o artigo 268 do Código Penal.  A legislação especial em vigor dá a alguns segmentos essenciais o direito de funcionar, mas dentro de critérios técnicos que garantam a saúde da nossa população — reforçou.

O poder público ainda manifestou a importância de respeitar todas as orientações de prevenção ao coronavírus.

— O Brasil vive um momento delicado, no qual qualquer afrouxamento pode colocar a perder as ações que, até aqui, significaram salvar vidas de muitas pessoas próximas de nós.  Por isso, é bom ficar atento. Quem ainda precisar utilizar o sistema bancário deve saber que as agências são obrigadas a manter o rigor na organização das filas, distanciamento entre pessoas e oferecer produtos para assepsia. Trata-se de um direito seu, cidadão, exigir isso. No caso de dúvidas ou mesmo de denúncia, é só acionar a fiscalização em Saúde — informou.

Mortes

Em apenas um dia, a SES-MG confirmou três mortes pela Covid-19: um homem, de 72, era portador de doença renal crônica, morava em Montes Claros, e morreu no último dia 2; um outro, de 82 anos, residente em Belo Horizonte, com histórico de hipertensão arterial e hipotireoidismo, faleceu um dia no dia 1º deste mês; o último caso trata-se de outro homem, de 72 anos, morador de Ouro Fino, sem comorbidade e não resistiu aos sintomas no dia 31 de março. 

As outras vítimas fatais confirmadas anteriormente são: mulher, de 82 anos; um homem, 66; e outra mulher, de 76. Além desse três moradores de Belo Horizonte, foram registradas duas mortes em Uberlândia (homem de 80 anos e mulher de 61) e uma em Mariana (homem, 44).

A secretaria estadual, em seu boletim epidemiológico de ontem, relatou a existência de 47.715 casos suspeitos de coronavírus no estado ‒ 525 já confirmados. Além disso, 119 mortes são investigadas.

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