“Setembro Amarelo” alerta para prevenção

Maria Tereza Oliveira

Este mês acontece tradicionalmente a campanha “Setembro Amarelo” e é esperado que a prevenção ao suicídio seja debatida. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 900 mil pessoas tiram suas vidas a cada ano no mundo. O número é maior do que a somatória mundial de todas as pessoas vítimas de guerras, homicídios e desastres naturais, de cada ano. Apesar disso, o suicídio ainda é tabu e tratado levianamente por algumas pessoas. Em Divinópolis, os dados também são assustadores. A causa mais comum para o autoextermínio é a depressão.

No entanto, apesar das estatísticas, não é raro ouvir pessoas dizendo que depressão é “frescura”. Conforme o Município informou ao Agora, o Serviço de Referência em Saúde Mental (Sersam) realiza uma média de 35 a 40 atendimentos por dia com pacientes com transtornos mentais.

Para entender mais sobre o assunto e quebrar paradigmas que cercam a depressão, a reportagem ouviu uma pessoa que sofre com depressão e um psicólogo.

Sentindo na pele

Sarah Gonçalves (nome fictício), de 34 anos, lida com a depressão há anos. Ela salientou a importância de falar sobre a enfermidade para, assim, ajudar outras pessoas que lidam com a mesma situação.

— Eu cheguei a fazer trabalho voluntário dando suporte em um grupo do Facebook de autoajuda para pessoas com depressão. A principal queixa da maioria era de que as pessoas ao redor não compreendiam e julgavam-nas preguiçosas. E eu sempre entendi que, na verdade, só compreende quem passa ou já passou por isso — contou.

Ela também criticou os estereótipos associados a quem tem a doença.

— É necessário quebrar esses paradigmas de que a pessoa depressiva é só aquela que fica trancada no quarto escuro, que não trabalha e está sempre chorando. Na verdade, há pessoas que amam postar fotos, trabalham e são sorridentes, mas também estão lidando com a doença — disse.

Profissional

O psicólogo Erick Rafael Barbosa pontua tabus envolvendo a depressão.

— A vida e morte são assuntos debatidos por vários campos de discussão. Falar sobre suicídio e conscientizar as pessoas sobre ele é de extrema importância, visto que os fatores que antecedem o autoextermínio muitas vezes são silenciosos — explicou.

Apesar de ser fatal em alguns casos, há muitas pessoas que subestimam o poder destrutivo da depressão e relativizam a doença.

— As consequências desta postura podem ser graves, levando ao suicídio. Quando temos um problema em nossa saúde física, nós vamos ao médico. Todavia, o mesmo não acontece com a saúde emocional. As pessoas buscam inúmeros recursos, ao invés de ir direto a quem pode ajudar. Os psicólogos e psiquiatras estão à disposição para cuidar das emoções, pensamentos e sentimentos — argumentou.

Erick também destacou o Centro de Valorização à Vida (CVV), que é uma opção de apoio emocional e prevenção de suicídio.

As redes sociais, tão presentes na rotina da maior parte da população, também podem ser um agravante, principalmente para as pessoas que estão com algum transtorno mental e não fazem tratamento.

— Hoje, as redes sociais têm trazido uma falsa imagem de perfeição, ou seja, as pessoas postam aquilo que é conveniente e aparentemente belo para impressionar as outras. Devemos entender que nossa vida é cheia de altos e baixos, até mesmo a de pessoas famosas. Elas também choram, sofrem, têm dor, como qualquer um de nós, e quando escondemos esses sentimentos, nosso corpo e nossa mente reagem de alguma forma e, na maioria das vezes, negativamente — explicou o psicólogo.

Assunto na Câmara

O “Setembro Amarelo” foi assunto na reunião ordinária de ontem da Câmara. Durante seu pronunciamento, Dr. Delano (MDB) levou a questão ao Plenário. O vereador apresentou dados de autoextermínio na cidade.

— Em Divinópolis, dez pessoas tentam se matar por mês. A cada três dias, uma tenta. [...] Para uma cidade deste tamanho, é muita gente — revelou.

Ele destacou ainda a importância de prestar a atenção no comportamento de pessoas próximas e avisar, principalmente para os parentes, caso sejam notadas mudanças abruptas na postura de um conhecido.

O vereador também se mostrou decepcionado com a ausência de alguns colegas no Plenário durante seu pronunciamento.

— Esses dados são muito importantes. No entanto, durante essa fala, dos 17 vereadores, apenas sete ouviram atentamente a fala — lamentou.

Busque ajuda

Além de consultas com psicólogos ou psiquiatras, o CVV tem papel importante.

Quem está ao redor também pode auxiliar com o incentivo à pessoa para procurar ajuda de profissionais de serviços de saúde mental, emergência ou apoio em algum serviço público.

O CVV oferece apoio emocional, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e Voip, 24 horas por dia, todos os dias da semana. Em parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS), a ligação para o número 188 é gratuita e pode ser feita por telefone fixo ou celular. Também é possível acessar o site do CVV para chat, Skype, e-mail e outras informações.

Nas próxima edições o Agora vai dissecar outros temas ainda no assunto.

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