“Reorganização da esquerda pressupõe infiltrar nos interiores”

Afirmação é de Duda Salabert, que teve 350 mil votos na última eleição e palestrou em Divinópolis

Ana Laura Corrêa

A professora, ambientalista e ex-candidata ao Senado por Minas Gerais, Duda Salabert, esteve em Divinópolis no último dia 19, para palestrar em uma faculdade. Ela falou com exclusividade ao Agora. Atualmente no PDT, após deixar o Psol, deve disputar uma cadeira na Câmara de Vereadores ou a Prefeitura de Belo Horizonte nas próximas eleições. Quando concorreu ao Senado, teve mais de 350 mil votos.

Assumidamente do campo de esquerda, em entrevista divulgada na última semana pelo UOL, disse que o setor é “pedante, elitista e tem um discurso excludente, distante da base”. As críticas, segundo ela, são para que “a esquerda avance e não tome tanta paulada como tomou na última eleição”. Em sua fala ao Agora, destacou outro erro do campo: a falta de representatividade no interior, algo que pode ser visto em Divinópolis, por exemplo.

— A reorganização da esquerda pressupõe infiltrar nos interiores, porque os investimentos em campanha da maioria dos partidos de esquerda são destinados às capitais, o que acaba excluindo o interior. Acho, porém, que temos que colocar o protagonismo no interior, com as mulheres, negros e negras, para aproximarmos da base. A esquerda, que pressupõe uma política mais democrática, tem que começar incluindo o interior — disse.

Para ela, essa reorganização também passa pelo diálogo.

— Além da autocrítica e de uma linguagem mais acessível, a solução é aproximar da base, entender o que o cobrador de ônibus, a pessoa que trabalha na coleta de lixo pensa sobre o Brasil, e não adotar mais uma postura academicista, de superioridade. Nós temos que trocar conhecimento com a base para construirmos uma política mais popular — ressaltou.

Esse distanciamento da base, segundo ela, foi também o que provocou a eleição do presidente Jair Bolsonaro (PSL), por exemplo.

— As pessoas que votaram nele não são burras ou fascistas. Votaram por insatisfação, porque queriam algo novo. Eu tenho inúmeras críticas ao Bolsonaro, mas devo entender o eleitor dele e corporificar esse anseio em um projeto de esquerda democrático e popular na próxima eleição para fazer resistência a esse projeto antinacionalista de governo — destacou.

Representatividade

A professora, transexual, ressalta a importância de ações afirmativas no Brasil. Há, por exemplo, uma lei que estabelece cota mínima de 30% de candidatas mulheres nas eleições proporcionais. Mesmo assim, a falta de representatividade é um problema evidente. Em Divinópolis, por exemplo, apenas uma mulher foi eleita vereadora. Isso sem mencionar outros critérios, como faixa etária, cor e classe social. O cenário não é muito diferente na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e no Congresso Nacional.

— Lógico que nosso sonho é uma sociedade sem cotas. Mas, para chegar lá, temos que manter as políticas afirmativas. Só 2,33% das pessoas que se formam em medicina no Brasil são negras, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Isso mostra um racismo estrutural, que exclui negros e negras de espaços de poder. Daí a importância de criar políticas afirmativas pra combater as sequelas, por exemplo, da escravidão. Nosso congresso ainda é dominado por homens, brancos, de classe média. E, se nós queremos democracia, esta pressupõe diversidade de corpos, de pensamentos, de ideologias. Por isso queremos um congresso mais diverso para traduzir o que é a sociedade, e as cotas são importantíssimas — afirmou.

Divinópolis

No último pleito, Duda Salabert foi votada em todos os 853 municípios de Minas Gerais. Em Divinópolis, chegou a 5.479 votos.

— Fiquei muito feliz, superou minha expectativa. Com essa votação, eu conseguiria ser eleita tranquilamente vereadora na cidade, o que mostra que Divinópolis está ampliando consciência e buscando uma sociedade mais justa e mais igualitária — finalizou.

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