“Quem bem lê, bem escreve”
Jorge Guimarães
A história da poeta Aparecida dos Santos começou desde pequena, pois gostava de ouvir as histórias que seus pais contavam. Segundo Roseli, tinham uma precisão de detalhes, impressionante.
— Havia uma história que meu pai contava sobre Jesus que eu gostava muito. Ele começava sempre assim: “Quando Jesus andou pelo mundo...”. O incrível é que nunca encontrei um só detalhe dessa sua história nos evangelhos, ou mesmo no velho testamento. Já a minha mãe era pura ternura, dedico a ela o meu lado poético — detalha a escritora.
Histórias
Como moravam afastados do arraial, o dia parecia terminar às 15h, porque, segundo a poeta, tudo ficava escuro muito cedo.
— Então, às luzes das lamparinas, começavam as histórias. Hoje acho romântico, épico, mas, antes, era aterrorizante, ficava torcendo para que o dia começasse logo. E, quando meus pais contavam histórias de assombração, meus irmãos e eu nos encolhíamos, à beira do fogão à lenha. Este, que ficava sempre aceso, com uma chaleira com água. Vez em quando, lá fora, um curiango cantava. Havia uma história para esse passarinho também! Minha mãe dizia que se tratava de um rapaz, cuja companheira havia sumido, e todas as noites ele lamentava com esse canto — lembra.
Estudos
Apesar do pouco estudo, os pais de Roseli eram excelentes leitores. Assim, atiçaram sua curiosidade.
— O “ler bem” está em ser um bom ouvinte, ou seja, deixar despertar em si a curiosidade de ir ver por que aquela história lhe causou um desassossego. O “escrever bem” precisa acompanhar essa curiosidade. Agora, quanto aos detalhes de “Quando Jesus andou pelo mundo” e aos “dizeres” do canto do curiango, eu prefiro manter assim, pois aprendi que, na literatura, você tudo pode. Até mesmo, “traduzir” os cantos dos pássaros — detalhou a poetisa.
Premiação
Em 2018, a crônica de Roseli “Quem bem lê, bem escreve” foi premiada com o primeiro lugar, na categoria pessoas da comunidade, uma parceria da Biblioteca Municipal Ataliba Lago com a Academia Divinopolitana de Letras (ADL). Também em 2018, seu poema intitulado “Tempo” ficou entre os 50 melhores em categoria nacional no Poetize - Concurso Nacional de Poesia.
— Foi uma honraria, muito mesmo, para uma menina tímida que veio da zona rural — diz, emocionada, Roseli.
A escritora
Roseli Aparecida dos Santos é nascida em Bocaina, comunidade rural do município de Cláudio. Depois de muitos estudos, graduou-se em letras pela Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg). É pós-graduada em gestão de pessoas pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-Minas). Roseli teve crônica premiada com o primeiro lugar na ADL no ano passado.