‘Paredes’

Israel Leocádio

Olá! Hoje desejo expressar alguns pensamentos que tenho sobre as paredes. Não gosto das paredes! Prefiro as varandas, as janelas. Paredes são sinônimos de lugar particular, espaço reservado, até mesmo privacidade. Mas são os únicos sinônimos positivos que encontro nas paredes. Geralmente, paredes dividem, separam, são frias e nos isolam do mundo. Você, provavelmente, está entre “quatro paredes” e na privacidade que elas ofertam para a leitura de um jornal, um bom livro ou, até mesmo, observações e momentos mais íntimos. Aí, dentro de sua “caixa de privacidade” e “particular propriedade”, você talvez chegue à conclusão de que as paredes funcionam como um isolamento da própria experiência da vida. Uma TV fixada em sua parede abre um mundo virtual diante dos olhos, porém, apenas virtual, carregado de cenas ensaiadas, momentos criados em roteiros de grandes diretores ou a vida real. Porém, ainda assim, virtual. As paredes, concretas e reais, contrastam com a sugestão da TV. Talvez, sua parede tenha um quadro, uma foto da família, uma pintura de um artista famoso ou, quem sabe, uma arte de grafite. Imagens que representam algo para você. Mas são estáticas, figuras imóveis. Ainda são apenas distração, para alegrar e deixar menos frias as paredes.

Prefiro as varandas, onde posso observar a vida de verdade, passando diante dos meus olhos. Da varanda posso ver um ir e vir de pessoas e veículos em todas as direções. Não sei para onde vão as pessoas, nem por que razão todos têm tanta pressa. Mas não me apego a essa curiosidade, porque, para mim, esse movimento frenético e sem sentido é a mais clara expressão de que há vida. Vida é movimento, é ir e vir, é sempre alguém em busca de algo. Morte é quietude. É antítese da vida. Por isso, gosto de varandas e janelas. Gosto de vida! Prefiro vida à quietude e ao silêncio.

O que é engraçado em tudo isso é que moro em um apartamento onde as janelas dão para as paredes da área externa do primeiro andar. E, ainda que more em um apartamento com área externa, ela está no térreo, e igualmente tenho como companhia paredes altas que escondem a rua. Escolhi mal!!! O apartamento em que moro me força a um comportamento: sempre que quero ver um pouco de vida real, abro a porta e saio à sua procura ou sou obrigado a olhar para cima (literalmente). E a segunda opção é a que mais frequentemente uso. Pego uma cadeira confortável, assento-me e olho para o céu. Fico assim por alguns minutos. Quando a vontade de ver a vida é maior, fico assim por muitos minutos. Minha contemplação “obrigatória e necessária” me conduziu a uma conclusão óbvia: embora o movimento na terra seja uma demonstração forte de vida, a vida na terra depende totalmente do céu. Precisamos do sol, das chuvas, da atmosfera, dos ventos... Enfim, a vida na terra é refém dos céus.

Isso parece uma filosofia empírica de um filósofo sem cátedra. Mas é também uma verdade bíblica. Houve um homem que ansiava pela continuidade de sua vida na terra e isso significava uma dependência de filhos. Mas tal homem era casado com uma mulher estéril. Metaforicamente, seu projeto de vida era tão virtual quanto a TV na parede, tão estática e inerte quanto um quadro pintado. Tal homem era prisioneiro entre as paredes da realidade. Sem varandas e sem janelas, aquele homem desistiu de sonhar. Aquele frustrado homem chamava-se Abraão. Esteve Abraão preso entre as paredes, até que do Senhor Deus recebeu ordem, onde se lê: “Levando-o para fora da tenda, disse-lhe: Olhe para o céu e conte as estrelas, se é que pode contá-las. E prosseguiu: Assim será a sua descendência” (Gênesis 15.5).

Caro leitor, o mesmo Senhor nos faz o convite para um olhar mais amplo, para fora das paredes de nossa realidade aprisionadora. Ele nos convida para um olhar na sua direção: para cima. Um romper com as paredes e uma ligação com os céus, em sua infinitude e grandeza. Os céus mostrarão a você que o Criador não tem limites. Hoje é um bom dia para olhar para cima e crer!

 

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