‘Não poder colocar meu filho para dormir é muito sofrido’, diz primeira vítima do coronavírus em Minas

Gisele Souto

“O pior do enfrentamento do coronavírus é o isolamento.” O desabafo é de Adriana Carrara, divinopolitana, 47 anos, que testou positivo para o Covid-19, poucos dias depois de pisar em solo brasileiro. Ela esteve com a família na Itália e, no último dia 2, o que poderia ser, a partir daquele momento, só lembranças de um passeio inesquecível, começou a virar pesadelo. Porém, antes disso, como sabia dos riscos, visto que país europeu já apresentava vários casos, agendou os exames antes mesmo de chegar ao Brasil. O receio era transmitir o vírus para outras pessoas. Neste intervalo, Adriana já tinha avisado ao colégio dos filhos, e seu marido, que é médico, havia cancelado toda a sua agenda na cidade. Feito o check-up dela e da família, a surpresa: mesmo estando assintomática, o exame deu positivo. Cerca de dois dias depois, os sintomas parecidos com os da gripe vieram. A partir daí, Adriana já sabia que passaria por momentos difíceis. Mesmo tendo o vírus descartado, os filhos, estudando por vídeoconferência, e o marido, sem poder atender seus pacientes, ficaram e ainda estão confinados. Mas, para a Adriana, seria muito pior: viria a quarentena e, com ela, o isolamento. Pois, a partir do momento em que a pessoa testa positivo, não pode ter contato com ninguém até vencer o prazo de transmissibilidade, cerca de 14 dias. No caso de Adriana, o “castigo” está chegando ao fim – neste fim de semana – e ela não vê a hora de se libertar deste “sofrimento necessário”.

O período

O isolamento e o não poder fazer nada são ainda mais doídos para Adriana quando o assunto são os filhos, um de 16 e outro de 12. Segundo ela, o estar em casa e não poder se aproximar da família é agonizante.

— Seu filho fala: mãe, quero te abraçar. Meu coração corta. Não poder colocá-lo para dormir é muito sofrido — desabafa.

Além disso, Adriana destaca o papel fundamental da mulher em casa, citando a transformação completa que ocorre quando esta precisa se ausentar completamente.

Depois de uma espécie de temor associada ao medo, Adriana revela que sai deste processo fortalecida.

— Minha família, com certeza, também sai mais unida. Pudemos contar neste momento também com uma rede de solidariedade de vizinhos, que nos forneceram lanches, almoço e itens básicos do dia a dia que ficamos sem acesso. Imagine você precisar do mínimo e não poder sair para comprar? Isso tudo me ensinou muita coisa, como ser menos individualista e como é bom sentir a importância do acolhimento — desabafou.

Os 14 dias – que para ela parecem uma eternidade – estão chegando ao fim. Aproxima-se o dia de Adriana e sua família terem a certeza do quanto é gratificante cair e se levantar, valorizar os pequenos detalhes e, simplesmente, viver!

 

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