“Meu medo é perdermos 14 médicos nos próximos anos”, afirma secretário

Maria Tereza Oliveira

Que Divinópolis está com problemas para contratar médicos não é novidade. E a situação preocupante pode se agravar ainda mais nos próximos anos, já a partir de 2020. Desde que Cuba anunciou sua saída do programa “Mais Médicos”, em novembro passado, muitas questões cercam o assunto. Antes do encerramento da parceria entre os países, a cidade contava com 25 médicos através do programa federal, sendo que 18 eram cubanos. Após a mudança, o quadro ainda não foi preenchido. Atualmente há 22 médicos pelo programa (o Município tem direito a 25). No entanto, o governo federal só arca com salários de 17 deles. Para piorar, Divinópolis ficou de fora da lista das cidades que integram o programa federal “Médicos pelo Brasil”, uma substituição do “Mais Médicos”.

A cidade tem enfrentado, desde o ano passado, uma grave crise econômica. Porém, na Saúde, a situação é ainda pior. O Estado deve ao Município cerca de R$ 120 milhões – R$ 105 milhões da Gestão Pimentel (PT) e R$ 15 milhões do Governo Zema (Novo) –, destes recursos, R$ 76,1 milhões seriam destinados à área. A questão financeira impacta diretamente na escassez de médicos interessados em trabalhar na cidade.

O secretário de Saúde, Amarildo Sousa, destaca a falta de candidatos nos concursos e processos seletivos realizados pelo Município para completar o quadro de médicos. Para ele, o valor dos salários oferecidos é a principal barreira para a contratação dos profissionais.

Sem procura

De acordo com o secretário, atualmente o Município sofre com a dificuldade para contratar médicos fora do programa “Mais Médicos”.

— A gente abre vagas para que os profissionais trabalhem pelo Município, sem ser pelo programa federal, e não consegue captar. Isso porque o “Mais Médicos” e “Médicos pelo Brasil” remuneram melhor do que a Prefeitura. Então nossos processos seletivos não ficam atrativos — comparou.

Amarildo disse só enxergar duas alternativas para resolver a situação: que Divinópolis seja incluída no novo programa do Ministério da Saúde (MS) ou ofereça uma remuneração melhor, para que os médicos não saiam da “Princesinha do Oeste” para outras cidades que ofereçam estes programas.

— Esta é uma solução que irei propor à Secretaria Municipal de Fazenda (Semfaz) e a pasta precisa fazer um estudo de viabilidade sobre isso. Eu entendo, e acredito que o prefeito também, que a Saúde, tanto quanto a Educação, tem de ser uma prioridade de governo e de políticas públicas — salientou.

Embora destaque a importância da readequação, o secretário admitiu não saber como fazer essa equação.

— Esta é uma tarefa da Semfaz e vai demandar um estudo — previu.

Pode piorar

Apesar da dificuldade enfrentada, Amarildo ainda não considera a situação caótica. Isso porque o programa “Mais Médicos” ainda não acabou.

— Mas eu temo que este programa vá acabar e que não consigamos repor estes profissionais. Divinópolis tem 25 médicos de direito. Quando houve a transição com a saída dos cubanos, iniciamos o ano com o quadro completo, porque conseguimos repor a tempo. No entanto, alguns profissionais foram saindo, pois tiveram outras oportunidades. Com isso, hoje estamos com a deficiência de três médicos no programa. Os contratos têm prazo, mas eles não terminam ao mesmo tempo. É de maneira gradual — revelou.

Os profissionais que faziam parte do programa no ano passado não eram todos cubanos. Por isso, três ainda são remanescentes daquela época, mas os contratos destes já estão acabando, terminam em dezembro próximo.

— Meu medo é 2020 e 2021 porque há a possibilidade de perdermos 14 médicos, então a dificuldade para repor vai ser muito grande — previu.

Sem repor

Embora tecnicamente Divinópolis tenha 22 profissionais atuando no “Mais Médicos”, apenas 17 são custeados pelo governo federal. Ou seja, cinco médicos do programa são pagos pela Prefeitura

— Os contratos foram acabando, o governo federal não repôs. Tirou Divinópolis do programa — frisou o secretário.

Como solução, Amarildo disse que o governo federal precisa rever a medida que tomou.

— É necessário que o governo se inteire mais sobre a situação financeira de Divinópolis. Vou pedi ajuda para deputados, inclusive ao Domingos Sávio (PSDB), para que seja solicitado ao Ministério da Saúde que a gente permaneça no programa — adiantou.

 “Médicos pelo Brasil”

Após muitas desistências dos médicos brasileiros, depois da saída dos cubanos, o governo federal apresentou uma nova alternativa. Com o programa “Médicos pelo Brasil”, o Ministério da Saúde informou que estão previstas 18 mil vagas para todo o território. No entanto, Divinópolis não foi contemplada pelo projeto. A alegação do MS é que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade é superior ao que o programa irá abranger.

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