É informação mesmo?

 

Há alguns anos os brasileiros viveram o boom da internet. Logo após a popularização do serviço veio o boom das redes sociais com o Facebook, WhatsApp e Instagram. O que era algo para ser usado para diversão tomou tamanha proporção e virou uma terra minada. Nunca se viu tantos produtores de conteúdo como nos últimos tempos e com isso as “fake news” tomaram conta das redes sociais e a coisa ficou tão desenfreada, que foi preciso o Facebook tomar providências contra páginas que criavam e compartilhavam notícias falsas. Pior dos que criam as “fake news”, são aqueles que as compartilham. Sedentos por serem os primeiros a dar aquela notícia, eles a compartilham sem qualquer pudor ou preocupação se a informação é verdadeira. E aí, no final das contas, a pergunta é: você está informado ou só tem conteúdo?

Com este boom da internet, das redes sociais e das “fake news”, um dos setores mais atingidos foi o jornalismo. O segmento teve que se reinventar. Afinal, a notícia que poderá ser dada com exclusividade no outro dia ou no jornal do meio-dia ou das 18h agora tem que ser dada instantaneamente, pois o público mudou. Se a notícia é dada duas horas depois do fato, já está velha. Para manter seu público bem informado, as empresas de comunicação entraram no boom das redes sociais e criaram suas páginas e suas contas no Instagram. Marcaram presença nessa terra de ninguém. Mas, nem mesmo a presença de grandes veículos de comunicação nas redes sociais foi suficiente para parar as “fake news”. Elas continuaram crescendo e o povo continuou com muito conteúdo e pouca informação.

O escritor e intelectual italiano Umberto Eco disse, e qualquer um há de concordar, que “As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do prêmio Nobel. O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”. Em outras palavras, os idiotas produzem o seu conteúdo, que é compartilhado por outro idiota, e assim forma-se um ciclo vicioso, praticamente inquebrável, que alimenta uma população cada vez mais carregada de ódio, que anda em círculos e não consegue sair do lugar.

Ainda não é possível mensurar os estragos que estas notícias falsas causam na sociedade brasileira. Mas, já é possível perceber que elas trouxeram um retrocesso grande à população, principalmente para esse momento em que os brasileiros começam a definir o seu voto, pois muitos usam as redes sociais para formar a sua opinião. Com o início das campanhas para as eleições este ano, foi dado o início para a criação dos perfis falsos para influenciar votos e opiniões. Como viemos da cultura de conteúdo tudo e informação nada, ainda não há uma previsão de como tudo isso influenciará nas urnas neste ano. Com um povo que consome cada vez mais conteúdo e menos informação, ainda não dá para acreditar que será desta vez que o Brasil caminhará rumo ao futuro e à tão sonhada mudança. Afinal, quando a mudança partir do povo, talvez ela refletirá em seus representantes.

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