Águas de Soledade

                                      

Quando D. Pedro assumiu o honroso cargo de Primeiro Imperador do Brasil, levou consigo o problema de combater os efeitos das secas no Nordeste. A ideia de transpor as águas do São Francisco vinha de 1817, justamente no governo de seu antecessor, seu pai, D. João VI. Foi-lhe naturalmente posta à mesa, porém sem resultados práticos. As discussões, em torno de um projeto de viabilidade técnica e política, recomeçaram em 1847, levando D. Pedro II a determinar estudos nesse sentido. Após passar por vários governos da República, somente os de Lula e Dilma tiraram a solução do papel para a prática.

Quão a alegria dos nordestinos do semiárido, ao verem, hoje, as torneiras de suas casas, correrem água! Redenção que secularmente esperou. Certo que faltam concluir as obras do eixo Norte, mas, para quem reside no Agreste e Cariri paraibanos, a dádiva caiu do céu.  O precioso líquido, indispensável à nossa sobrevivência, começa a jorrar desde a Serra da Canastra, em solo mineiro, aumentando o volume à medida em que recebe água de seus inúmeros afluentes, dos menores aos de médio porte. Costumo levantar aos meus conterrâneos de Soledade, Paraíba, de baixíssimo índice pluviométrico, um dos municípios beneficiados com a prodigiosa obra, a curiosidade de que ela vem sendo abastecida por Soledade. Atônitos, lhes explico: pelo território de seu homônimo, Soledade de Minas, na região sul do Estado e contrafortes da Mantiqueira, onde correm duas vertentes, dentro da bacia do rio Verde: rio Verde Grande, o qual nasce no município de Bocaiúva, e Ribeirão de Boa Vista, o qual deságua no Itapecerica e este no rio Pará de Minas. Ambos, tributários do S. Francisco.

Sofrida gente, cuja satisfação pode ser prejudicada em função da tragédia de Brumadinho. Técnicos tentam diminuir a contaminação dessas águas, a fim de minimizar a catástrofe a mais 12 milhões de pessoas. O rastro de destruição não tem limites, ocorre em função de uma política econômica má conduzida, sentada nas privatizações.  A Vale do Rio Doce, leiloada no governo de FHC, por R$ 2 bilhões, quando valia R$ 98, é responsável pelo rompimento das barragens de rejeito, poluindo, alterando paisagens, biomas e ceifando vidas humanas e animais. Além da sangria de divisas para o exterior, dado seu excesso de lucros. Traz a especulação imobiliária, executa o trabalho escravo, sonega impostos, um mar de lama total, alimentada pelos gestores, descompromissados com a soberania da nação e bem-estar do povo.

 Uma mineradora, ao se instalar em qualquer região do país, promete gerar empregos e dinamizar a economia local. Puro sofisma, pode provocar, como ao que assistimos, grave ameaça, sem reversão do impacto. 

 

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