‘Goela abaixo’

Na véspera do Dia dos Professores, depois de 13 dias de obstrução pela bancada de esquerda, o Projeto de Lei 274/17, apelidado de “Escola Sem Partido", foi aprovado pela Câmara Municipal de Belo Horizonte em primeiro turno. A capital mineira é a primeira cidade a aprovar o tema, que vem sendo discutido em nível nacional desde 2004. O assunto é polêmico e tem como objetivo afixar nas escolas um cartaz com uma lista chamada de "deveres do professor". Basicamente, a proposta, que é bastante criticada pelos profissionais da educação, pretende especificar os limites da atuação dos professores, impedindo que eles promovam suas crenças particulares em sala de aula, incitem estudantes a participar de protestos e difamem os alunos que pensem de forma distinta. 

O que mais chama a atenção nisso é que este projeto foi criado em 2004 por um movimento que diz se preocupar "com o grau de contaminação político-ideológica das escolas brasileiras" e afirma que "um exército organizado de militantes travestidos de professores prevalece-se da liberdade de cátedra e da cortina de segredo das salas de aula para impingir-lhes a sua própria visão de mundo", mas só ganhou notoriedade em 2015, 11 anos após sua criação, mostrando total retrocesso no Brasil. Maior regressão ainda foi a forma como a votação do projeto, apresentado pela bancada cristã na Câmara de BH, foi conduzida. A entrada de pessoas nas galerias para a reunião ordinária desta segunda-feira, 14, foi proibida. Um “cordão” com 35 guardas municipais foi montado para impedir o acesso à Câmara. 

Foi meio que “goela abaixo” que o projeto desceu na garganta de parte da população, que acredita que, antes de ser criada uma cartilha para o professor, deve ser feita uma para os governantes. Afinal, dizer o que o professor deve fazer é muito fácil, mas dar qualidade de trabalho e de ensino, aí já é outro assunto. E foi assim que os professores comemoram seu dia ontem, com esse projeto empurrado desta forma. Pois ninguém se preocupou em criar uma cartilha determinando quanto um professor deve receber de salário. Também foi assim que os professores de Borda da Mata, no Sul de Minas, passaram seu dia: com a notícia de que os vereadores rejeitaram a proposta que pretendia igualar a remuneração dos parlamentares à dos professores da rede municipal. 

Enquanto a capital mineira aprova um projeto da maneira que foi, e Borda da Mata rejeita igualar seus salários, os profissionais da educação continuam sua luta diária, acreditando que somente a educação pode mudar o mundo. Enquanto os políticos trabalham ferozmente para dificultar o acesso à educação, os verdadeiros heróis deste país enfrentam remunerações baixas, material sucateado, cortes de verbas e até mesmo a violência. Enquanto os políticos se acovardam, fechando a Câmara durante uma votação, os professores do Brasil continuam de pé, enfrentando tudo e todos para levar um pouco de conhecimento e para que, um dia, o rumo deste país mude. Viva os professores, os verdadeiros heróis deste Brasil!

 

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