'Farinha do mesmo saco'

Raimundo Bechelaine

Pelo menos para nós, distantes da região, o Sínodo sobre a Amazônia caiu no esquecimento. Mais ainda suas conclusões, resumidas na exortação apostólica “Querida Amazônia”. O papa Francisco, entretanto, não se esqueceu da Amazônia. 

Sábado passado, ele telefonou ao arcebispo de Manaus, manifestando solidariedade e preocupação com a cidade e o estado. Conforme nota da Arquidiocese, o papa pediu informações da situação em Manaus e sobre as populações ribeirinhas, os pobres e os indígenas. Também garantiu suas orações e enviou uma bênção especial. Igualmente, agradeceu e estimulou as ações de solidariedade que vêm sendo feitas pela Arquidiocese, por meio do clero, dos religiosos e grupos leigos, nas pastorais. O arcebispo informou a Francisco sobre a atuação da Arquidiocese em favor dos moradores de rua, dos desempregados e migrantes, dos pobres em geral.

Causam forte impressão o noticiário e as imagens que de lá nos chegam. Mostram a situação quase caótica, provocada pela pandemia, no estado amazonense e no vizinho Pará. Mas, afinal, em todo o Brasil, a situação é de incerteza e angústia. 

Neste contexto de crise e sofrimento, é difícil compreender os acontecimentos na cúpula do governo federal, se é que existe governo. A demissão de dois importantes ministros revela um quadro de conflitos, corrupção e falta de rumos, enfim desgoverno. 

O professor Oscar Vilhena é docente de Direito na Fundação Getúlio Vargas, mestre em direito pela Universidade de Columbia-EUA e doutor em ciência política pela USP. Escreveu há dias: “Foi surpreendente ver milhões de brasileiros acreditarem que Jair Bolsonaro seria a encarnação da ordem, do interesse nacional e da luta contra a corrupção. Sua Presidência, como era de se esperar, tem se esmerado em produzir anarquia, obscurantismo e um ataque sistemático às instituições do Estado democrático de Direito, além, é claro, de uma defesa intransigente dos interesses do seu clã” (Cfr. Folha de SP).

Aí está a resposta para quem se pergunta por que o presidente veio demitir, sobretudo, o ministro da Justiça, em situação já tão crítica. O problema inadiável é que investigações em curso estão para revelar mais crimes que envolvem a “familícia” presidencial. Daí que não era possível esperar. Na fala de despedida, o ex-ministro Moro deu bem a entender: era urgente demitir o chefe da Polícia Federal. 

Antes, porém, de concluir, uma observação. Moro e Bolsonaro se merecem. São “farinha do mesmo saco”. O ex-juiz não é o bom moço que tenta aparentar. 

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