‘Esperança’

Israel Leocádio

Olá! Passar toda a existência nesta vida sempre esperando no outro, sempre culpando o outro, sempre não se sentindo realizado em razão do outro parece-me a forma mais indigna de existência humana. Infelizmente, vejo que muitos são assim. Na chamada “cultura comportamental brasileira”, vivemos a influência, por séculos aceita inconscientemente, de uma imposição austera de uma sociedade burguesa europeia. Ou uma mentalidade de submissão passiva, de influência outra, da histórica repressão à liberdade, sempre imposta a um país colônia. Não sei! Parece-me que, de alguma forma, alguns esperam mais do que deveriam. Esperamos como quem se sente escravo do destino. (Sou pardo, descendente de africanos e índios. Mas, não nasci para viver em uma senzala social.)

Parafraseando o escritor suíço Denis de Rougemont: “A sociedade revela sua decadência quando insiste em perguntar: O que irá acontecer? Quando deveria perguntar: O que posso fazer?”. Não vivemos apenas em um chamado terceiro mundo, sucateado tecnologicamente, invadido por roedores no poder. Fazemos parte de uma sociedade sucateada intelectualmente, de baixa autoestima, de mentalidade escrava de um “primeiro mundo” que dita as regras para nossa sobrevivência. Não é esse o projeto de vida de Deus para a humanidade. Quando a Bíblia diz que Deus criou o homem à sua imagem (Gênesis 1.26), Deus apresentava nossa real natureza. Isso fica claro na ordem dada ao homem: “domine sobre todos os animais da terra” (Gênesis 1.28). Para Deus, somos feitos seres capazes.

Gosto do verbo utilizado por Mário Sérgio Cortella – “esperançar”. Quem espera cruza os braços diante da tragédia, chora e diz: Deus quis assim! Quem busca esperançar, pode chorar, porém, não cruza os braços e aguarda que Deus faça a parte que cabe ao homem. Esperançar é agir com esperança; é ter atitude, porque tem esperança; é levantar-se e lutar, porque tem esperança. De certa forma, queremos colocar todos os nossos medos e quietudes na conta de Deus. Precisamos aliviar nosso abatimento em alguém que é misericordioso e vai nos entender. Contudo, penso que nos esquecemos de dois fatores importantes: primeiro, de nossas escolhas, que nos conduzem a paraísos e também a desertos. E, são nossas escolhas, feitas (às vezes) sob influência de um espírito passivo que “espera as coisas melhorarem”, mas não busca! Não gostamos muito de aceitar erros. A Bíblia diz: “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra ti, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência” (Deuteronômio 30.19). Fazemos escolhas. Escolhas trazem suas consequências. Já aprendemos com as leis da vida: “plante e colherá exatamente aquilo que plantou”. Então, escolha bem as sementes.

Em segundo lugar, do ponto de vista de Deus, recebemos diretamente dele algo que nos difere da criação e que nos faz seres humanos – recebemos o espírito de vida. Quanto a isso, a Bíblia diz: “Deus não nos deu um espírito de covardia, mas de coragem...” (2 Timóteo 1.7). Na visão de Deus, não temos vocação para covardia. Não é essa a natureza que recebemos do Criador. Antes, recebemos espírito forte, para produzir reações.

Diante de toda catástrofe a que temos assistido nos últimos dias, restam-nos dois comportamentos: primeiro – esperançar, confiar que podemos prosseguir e lutar; levantar a cabeça e seguir; agir e não apenas aguardar. À semelhança de um semeador que planta uma semente, e sabe que ela tem potencial para crescer e tornar-se uma árvore, pelo que ele rega o solo, assim devemos agir. Confiar, agindo. Segundo – esperar. Não acredite que Deus mentiu para a humanidade, quando afirmou que todo mal tem os seus dias contados. Deus não mente! Assim como as estações do ano passam, este tempo passará. Digo a todos que desejam ouvir: “A esperança é força dos homens. Alimenta a alma. Encoraja o espírito. Fortalece a fé”. A Bíblia nos incentiva a confiar esperançosamente em Deus: “Esperei com paciência no SENHOR, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor.
Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos”
(Salmos 40.1,2). Naquilo que me cabe fazer, conjugo o verbo esperançar e tomo atitude com esperança no resultado. Naquilo que cabe somente a Deus fazer, tenho esperança, visto que Deus cumpre suas Palavras. Então, tenha esperança! Aquele que espera em Deus nunca se frustrará!

 

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