“Comigo não acontece”

Poucas pessoas estão preparadas para o pior, como rompimento de barragens, infortúnios similares, massacres, incêndios, inundações, desabamentos, acidentes fatais. O americano Paul Stoltz é autor do livro AdversityQuotient – TurningObstaclesintoOpportunities (Quociente da Adversidade – Transformando Obstáculos em Oportunidades). Além do Q.I. (inteligência) e do Q.E. (emoção), Stoltz admite o Q.A, quociente de adversidade, que nos leva a fazer do estresse de efeito paralisante uma oportunidade de superação.

Há uma crença generalizada de invulnerabilidade. Seja individual seja coletivamente, cuidamos pouco de medidas preventivas. E o que era considerado impossível de acontecer acaba por acontecer. Temos às vezes uma visão distorcida da realidade e de nós mesmos. Comigo isso não acontece. Jamais agiria assim. Quando acontece, o chavão é outro: “Por que isso foi acontecer justamente comigo?”.

Ao levar uma cestinha de doces para a vovozinha, Chapeuzinho Vermelho, ludibriada pelo lobo, em vez de seguir pelo bosque e não falar com estranhos, preferiu seguir o caminho perigoso da floresta. E deu no que deu. Mais ou menos como nas leis, como esta, de trânsito: Não atravessar fora da faixa de pedestre. Resultado: basta consultar as estatísticas. A vida é constituída de rodovias com mais trevos que linhas retas; de maior número de esquinas que de quarteirões ou quadras.

O que aconteceu em Mariana e em Brumadinho pode ter deixado, em alguns sobreviventes que vivenciaram de perto a tragédia, o transtorno de estresse pós-traumático, Post-Traumatic Stress Disorder (PTSD). Decorrente também de neurose de guerra e até de um evento traumático protagonizado pelo próprio paciente. Nesses casos, por si próprio, como cair num golpe, num trote, culpa de outrem ou fenômeno da natureza, quando a vítima é partidária do “Comigo não acontece” ainda tem que ouvir o tripudiar escarnecedor: – Não falei! Bem que eu preveni...

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