'Cinema Falado' destaca obras do diretor sueco Ingmar Bergman

LANÇAMENTOS DA SEMANA

A HORA DO AMOR (BERÖRINGEN/THE TOUCH). EUA/SUÉCIA. 1971. DIR: INGMAR BERGMAN. ELENCO: ELLIOTT GOULD, BIBI ANDERSSON, MAX VON SIDOW. DRAMA. 115 MIN. 
Para comemorar os 100 anos do mestre sueco Ingmar Bergman, sai pela primeira vez aqui no Brasil esse filme que foi considerado inclusive pelo próprio diretor como o seu pior trabalho e que recebeu críticas em todos os festivais que participou. Mas, para meu espanto, após assistí-lo tive uma surpresa bem mais agradável – afinal, o que é mostrado nas belas cenas filmadas faz parte da vida cotidiana da humanidade. Acompanhamos a vida feliz de um casal onde a mulher, Karin (Andersson), acaba por conhecer o amigo de seu marido Andreas (Von Sidow), um arqueólogo americano chamado David (Gould) que está na Suécia para fazer um trabalho de arqueologia. A relação deles se complica devido aos problemas passados por David, que é um refugiado judeu dos campos de concentração. Karin fica dividida entre a vida bem estabelecida com o marido e os filhos e a paixão que tomou conta dela pelo amante e se recusa a escolher entre um deles, vivendo um conflito que cobrará dela uma posição posteriormente. A atriz Bibi Andersson dá um show de interpretação nesse difícil papel que lhe é dado, embora Max Von Sidow fique preso ao papel do marido que é traído e não esboce nenhuma reação, ficando para o norte-americano Elliott Gould a primazia de ser o primeiro ator não escandinavo dirigido por Bergman. Logo após essa tentativa de atingir o mercado norte-americano, não muito feliz, Bergman compôs talvez a sua maior obra prima, “Gritos e Sussurros”, mostrando a que veio e para que ninguém duvidasse que ele sempre foi e será um dos maiores cineastas do nosso tempo.

CORPO E ALMA (TESTRÓL ÉS LÉLEKRÖL). HUNGRIA. 2017. DIR: ILDIKÓ ENYEDI. ELENCO: GÉZA MORCSÁNYI, ALEXANDRA BORBÉLY. DRAMA. 116 MIN. 
O cinema feito na Hungria tem pouca penetração entre nós e por isso saudamos quando alguma produção consegue furar o bloqueio e alcançar alguma projeção no exterior, como é o caso desse estranho filme. Acompanhamos Maria (Borbély) e Endre (Morcsányi), dois funcionários de um abatedouro de gado nos arredores de Budapeste. Ele, um diretor financeiro sem amigos e cheio de traumas do passado. Ela, uma inspetora de qualidade também sem amigos e que se recusa até a tocar em pessoas. Endre ainda tem um problema nos braços, que ele tenta esconder até um dia notar que Maria o olha com algum interesse. Eles se aproximam timidamente e estabelecem uma ligação que, embora frágil, os leva a sair um pouco da casca em que vivem. Até que começam a ter o mesmo sonho onde ela se imagina como uma cerva e ele um veado, onde eles passeiam em um lugar cheio de neve, sem ninguém para observá-los. Um filme altamente reflexivo e frio que mexe com a gente, onde torcemos para que eles saiam daquela hibernação existencial em que vivem e comecem a sentir as mesmas coisas que nós. Embora essa nossa compaixão não os ajude em nada. 

CLÁSSICO DO CINEMA

A FLAUTA MÁGICA (TROLLFLÖJTEN). SUÉCIA. 1975. DIR: INGMAR BERGMAN. ELENCO: ULRIK COLD, JOSEF KÖSTLINGER, IRMA URRILA. FANTASIA MUSICAL.  135 MIN. 
O diretor sueco Ingmar Bergman conseguiu a proeza de filmar uma ópera e transformá-la num clássico do cinema, com sua exímia direção, onde penetramos no mundo mágico de Mozart e nos esquecemos de tudo. Embora tenha sido escrita em alemão, aqui ela é vertida para o sueco com belos atores escandinavos nos contando a história de uma rainha, a Rainha da Noite, que oferece sua filha Pamina ao príncipe Tamino com a condição que ele a traga de volta de seu pai Sarastro e para isso ela dá-lhe uma flauta mágica e convoca Papageno, um caçador de aves, para lhe acompanhar. Os dois passarão por várias provas de conhecimento e de amor até encontrarem suas metas. Indescritível a beleza da música aliada às imagens modernas que Bergman imprimiu, onde acompanhamos junto com a plateia todo o enlevo e o encantamento dali produzido. Um clássico.

MÚSICA DA SEMANA

Enquanto escrevia essa coluna fui ouvindo a ópera de Mozart “A Flauta Mágica”. Música da semana: a ária “Der Hölle Rache kocht in meinem Herzen”.

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